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Fundo ameaçado
Ânsia de Lula de agradar Estados põe em risco mecanismo para conferir uso racional às receitas petrolíferas do pré-sal
A DISPUTA voraz de Estados da Federação pelos
recursos ainda inexistentes da exploração
das reservas petrolíferas do pré-sal já causa danos. Está ameaçada a melhor providência proposta pelo governo federal a fim de
evitar o mau uso futuro das novas receitas.
A criação do chamado Fundo
Social deveria servir para evitar
os desequilíbrios econômicos
que decerto adviriam de um aumento repentino e duradouro
dos gastos do governo. Segundo
o modelo proposto, feita a partilha de royalties e participações
especiais, o que couber à União
deverá ser destinado a essa espécie de poupança fiscal.
A princípio, o montante principal ali reservado não se transformaria imediatamente em gasto
de custeio. Seria aplicado a juros,
por exemplo em ações de infraestrutura, e apenas o rendimento desse fundo seria alocado
para despesas correntes, em setores como a educação.
O mesmo dispositivo, tomando as receitas em moeda forte
oriundas de exportações de petróleo e aplicando-as no exterior,
traria vantagem adicional de mitigar a entrada maciça de dólares
no país. Combateria, assim, a
tendência de valorização excessiva do real, que prejudica a competitividade da indústria local.
Mas o deputado Antonio Palocci Filho (PT-SP), relator do
projeto na Câmara, abriu a primeira brecha para subverter a lógica original. O ex-ministro incluiu no texto a possibilidade de
que o Executivo defina no futuro, via projeto de lei, se usará
apenas os rendimentos do fundo, ou se parte de seu patrimônio
total, em gastos de custeio.
Como se isso não bastasse, governadores do Nordeste agora lideram ofensiva na Câmara para
tentar ampliar a fatia de recursos
a que seus Estados terão direito
em áreas já licitadas do pré-sal.
Sem querer desagradar potenciais aliados eleitorais em Estados produtores, o governo, que já
abriu mão de parte dos repasses
a que a União tem direito, é agora
pressionado a pagar a conta, e
desfazer-se de nova parcela dos
seus royalties para acomodar essa pressão dos insatisfeitos.
A mudança em áreas já licitadas, a rigor, não envolve quebra
de contrato -Petrobras e demais
exploradoras continuariam a pagar a mesma fatia de royalties
contratada. A ameaça de prejuízo é para o país. Desde que os
projetos que regulamentam a exploração do pré-sal chegaram ao
Congresso, a União viu a fatia de
sua participação nessa receita
cair dos 40% atuais para 22% -e
pode vir a perder ainda mais.
São esses recursos, que aos
poucos vão sendo podados nos
trâmites do Congresso, que comporiam o Fundo Social. Cada nova concessão do governo aos Estados representa uma parte das
receitas que deixa de ser destinada à poupança e a investimentos
futuros -e fica livre para gastos
imediatos e, com lamentável frequência, de má qualidade.
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