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São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Dia Mundial da Paz

A mensagem do Papa João Paulo 2º para o Dia Mundial da Paz 2004 é de rara beleza e oportunidade e deveria ser lida e meditada na sua íntegra. Renova o apelo feito em sua primeira alocução pontifícia, em janeiro de 1979: "Para alcançar a paz, educar para a paz".
João Paulo 2º, tendo diante de si a situação dramática do novo milênio e a sua larga experiência de pastor, insiste em afirmar que "Educar para a paz é um compromisso sempre atual". Dirige sua convocação a todos, mas coloca em evidência os chefes das nações, os juristas empenhados em encontrar caminhos de entendimento pacifico, os educadores da juventude, para que formem as consciências para a compreensão e o diálogo, e também os homens e as mulheres que se sentem tentados a recorrer ao inadmissível instrumento do terrorismo.
Lembra a incansável atuação de seu predecessor, o Papa Paulo 6º, que, em 1968, desejou que no dia 1º de janeiro de cada ano se celebrasse o Dia Mundial de Oração pela Paz. Às 11 mensagens de Paulo 6º (1968-1978) somam-se os 25 anos de constantes e veementes apelos do atual Pontífice para assegurar no mundo a convivência serena e o respeito mútuo.
Falta agora, lembra o Papa, agir a fim de que seja alcançado o ideal de um relacionamento pacífico e fraterno entre os povos.
A mensagem de 2004 renova a urgência da educação para a paz, porque, diante das tragédias da humanidade, há quem se sinta tentado a ceder ao fatalismo. É preciso reafirmar que "a paz é possível e é um dever".
A parte central da alocução é dedicada à insistência na educação para a legalidade e ao respeito à ordem internacional, que evite o uso arbitrário da força e garanta a solução pacífica das controvérsias. Recorda o longo caminho da história desde a formação do "direito das nações" ("jus gentium") até o surgimento e a atuação da Organização das Nações Unidas e do Conselho de Segurança. Mostra, no entanto, o limite da ONU e a premência de uma reforma no ordenamento internacional, a fim de que seja capaz de enfrentar não só os conflitos entre Estados soberanos, mas os novos atores, que são entes ligados a organizações independistas ou até conexos com agremiações criminosas. Diante do terrorismo, será preciso elaborar instrumentos jurídicos que previnam e reprimam o crime, mas salvaguardem sempre os direitos fundamentais da pessoa. Insiste a mensagem em ir às causas das injustiças subjacentes e educar para o respeito à vida humana. Lembra aos discípulos de Cristo que educar a si mesmo e aos outros para a paz é dever que decorre da própria fé em Jesus Cristo, que veio para anunciar o Evangelho da Paz e convocar-nos para construir a paz.
Na elaboração do direito internacional, a Igreja é chamada a cooperar para que haja pleno respeito à ordem ética e jurídica. Cabe, com efeito, à moral fecundar o direito. Além disso, é preciso que a caridade anime todos os setores da vida humana, incluindo a ordem internacional. A Justiça sozinha não basta, porque nem sempre consegue liberar-se do rancor, do ódio e até da crueldade. Não há paz sem perdão. Só uma humanidade onde reine a "civilização do amor poderá gozar da paz autêntica e duradoura".
"O amor vence tudo." O Papa João Paulo 2º termina nos exortando, para que cada um se esforce por apressar essa vitória.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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