São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 2008

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Obama e as Américas

Distensão com Cuba abriria margem na agenda dos EUA para temas mais relevantes, como comércio e energia

A IMAGEM do governo George W. Bush é tão negativa na América Latina que a simples posse de Barack Obama suscita otimismo sobre as relações dos EUA com a região. Energia, clima, comércio, segurança e imigração são os principais temas que devem pautar o diálogo no continente.
Do ponto de vista brasileiro, a promessa de renovação da matriz energética americana é a que desperta maiores expectativas. A redução nas barreiras à importação do álcool produzido no Brasil poderia contribuir para acelerar a transição rumo a fontes renováveis naquele país.
As bases políticas do Partido Democrata, vale lembrar, sempre estiveram associadas a plataformas protecionistas no comércio. A crise, que faz aumentar depressa o desemprego em regiões que apoiaram maciçamente a candidatura Obama, tende a exacerbar esse comportamento.
Apesar disso, o presidente eleito nomeou o democrata Ron Kirk, ex-prefeito de Dallas, para chefiar o escritório encarregado das questões de comércio exterior. Bem-sucedido politicamente no Texas, rincão dos republicanos, Kirk tem um histórico de posições favoráveis à expansão do livre comércio.
A despeito de qual seja a resultante do governo Obama para o comércio, o Brasil dificilmente deixará de receber atenção crescente, na linha do que já ocorre neste segundo mandato da administração Bush.
Além das negociações sobre abertura de mercado, Brasília deverá ser interlocutor importante de Washington na agenda ambiental. A mudança climática, a julgar pelo peso acadêmico e pela biografia da equipe escalada para esse setor do governo Obama, ganhará status de assunto de Estado na Casa Branca.
Há fortes indícios, por outro lado, de que uma agenda gradual de distensão com a ditadura cubana esteja nos planos da nova gestão. A superação desse litígio -idealmente com o fim do embargo imposto à ilha e a abertura do regime em Cuba- melhoraria o ambiente para as relações entre países americanos.
Com o fim da Guerra Fria, Cuba perdeu toda a relevância estratégica que possuía no continente. Como seu peso econômico é negligenciável, o conflito só se manteve de pé por uma idiossincrasia da política doméstica americana -a oposição dos cubano-americanos, exilados sobretudo na Flórida, a qualquer concessão ao regime dos Castro.
Uma mudança, contudo, parece ter ocorrido na eleição de 2008: Obama venceu na Flórida sem ter selado compromisso com os cubano-americanos radicais. Se o democrata resolver a pendência com a ilha, a diplomacia americana para o continente estará livre de um fardo que distorce sua atuação regional.


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