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Reforma imaginária
Ações violentas do MST são tática de desespero de grupo decadente para manter vivo o mito da revolução agrária no país
QUEM SE dispuser a ouvir o líder vitalício do
MST, João Pedro Stédile, cedo perceberá
que ele pontifica sobre um país
que só existe em seus sonhos arcaicos de revolução agrária. Hoje
81% dos brasileiros vivem em cidades, a democracia vigora há
um quarto de século e o país se
destaca como potência agroindustrial. O MST, contudo, almeja
reverter a modernização com
atos violentos e insensatos.
A decadência do movimento
foi exposta com rara acuidade
analítica em artigo de Zander
Navarro nesta Folha. O sociólogo estuda o MST desde sua fundação, em 1984, quando ainda
estava restrito à região Sul e expressava uma demanda real por
terras para pequenos agricultores. É instrutivo reconstituir os
passos de juízo devastador de
Navarro sobre a organização.
O MST, assinala, deixou de ser
um movimento social. Perdeu a
espontaneidade característica e
burocratizou-se, perpetuando
uma liderança que se aferra ao
esclerosado leninismo. Poderia
ter optado por tornar-se uma
poderosa central sindical do
campo após a triunfante Marcha
sobre Brasília de 1997, mas refugiou-se numa semiclandestinidade de resultados, em tudo dependente de fundos estatais.
Sua base social desapareceu,
ou está em vias de fazê-lo. Quando muito, sobrevive em alguns
bolsões de atraso, mas nada que
justifique um bilionário programa nacional de reforma agrária.
As nefandas "ações" do MST
contam apenas com a mobilização compulsória dos próprios
assentados e o apoio de guetos
esquerdistas retrógrados.
Para contrabalançar a falta de
legitimidade e de quadros, o grupo se esfalfa para aparentar tamanho perturbador -"o maior
movimento social do planeta"-
com recurso a invasões ruidosas.
Não contentes em decidir arbitrariamente quem é produtivo e
quem não é, atropelando aliados
na burocracia agrária, líderes do
MST deram para menosprezar a
Justiça. Mandam invadir e depredar propriedades que, segundo seu arbítrio, ocupam terras
públicas griladas.
Assim ocorreu com uma fazenda da empresa Cutrale, no interior paulista, quando os sem-terra destruíram milhares de pés
de laranja. Diante da justa grita
contra a barbárie, o MST responde com a cínica acusação de
que se busca criminalizar a questão agrária. Ora, a ilicitude dos
atos é flagrante; não fosse a tolerância política com o MST, seus
líderes estariam atrás de grades.
Há, no entanto, quem considere o MST pouco radical. É o caso
de Plínio de Arruda Sampaio,
militante do PSOL de quem a
Folha editou artigo na mesma
data. A destruição de 7.000 pés
de laranja da Cutrale, para ele, foi
um erro: "Deviam ter destruído
70 mil (...) a fim de chamar mais a
atenção para o fato de que essa
fazenda ocupa ilegalmente terras públicas com a conivência do
Poder Judiciário".
Tamanho desprezo pelo Estado de Direito resvala do delírio
pueril para o pesadelo de reviver
o passado a qualquer custo. Está
na hora de o MST crescer e desaparecer.
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