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CARLOS HEITOR CONY
Os fiscais sem fiscais
RIO DE JANEIRO - Evitarei gastar o meu latim, mas há um ditado na língua de Cícero que pergunta: quem
custodiará o custódio? No original é
quase a mesma coisa. Numa tradução aproximada e oportuna para os
nossos dias, significa: quem fiscalizará os fiscais?
Acompanhamos com horror o escândalo dos fiscais do Estado do Rio.
Deram azar, evidentemente, pois
praticam um tipo de crime que é comum e antigo: o da chantagem fiscal.
O pagamento de impostos, a incidência de multas afetam não apenas as
pessoas jurídicas, mas as pessoas físicas, até mesmo as de faturamento escasso e incerto.
O próprio Estado, muitas vezes,
exerce a chantagem, ameaçando adversários com devassas fiscais -houve o caso do médico que não era lá essas coisas em honestidade, deu em cima da namorada de um funcionário
da Receita Federal, teve sua contabilidade exposta e continua preso até
hoje, por crimes acumulados.
Se o Estado, por isso ou aquilo, usa
o fisco como elemento de pressão,
seus representantes operacionais fazem o mesmo em proveito próprio. E,
dentro da fórmula consagrada pelo
mercado, a do custo/benefício, a
maioria das pessoas jurídicas prefere
ser sangrada pelo suborno, que geralmente é arbitrado em 5% ou 10% do
valor da dívida. Ganham o subornador e o subornado, perde o erário. "E
la nave và..."
É um tipo de crime do qual nenhum governo -os bons e os
maus- está isento. O raio caiu agora em cima de Rosinha Matheus, que
neste início de gestão tem sido um alvo relativamente fácil para as tempestades, dadas as circunstâncias de
ser mulher de um ex-governador e ter
sido adversária de uma ex-governadora por ela derrotada nas últimas
eleições.
Esse seria o aspecto estrutural da
corrupção fiscal. Que não absolve, pelo contrário, deverá condenar com
mais rigor os culpados.
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