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PELO FIGURINO
Embora o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, tenha tomado a precaução de dizer que não
pretendia dirigir críticas à política
econômica do governo, os comentários que fez anteontem na Índia contrastam com as últimas medidas do
Banco Central e colocam na berlinda
a ortodoxia econômica até aqui professada pelo Ministério da Fazenda.
Segundo Furlan, os juros no país
atingiram patamares tão elevados
que "se perdeu a noção do que é razoável". O Brasil, disse o ministro,
precisará ajustar sua taxa básica de
juros e também os "spreads" cobrados pelos bancos (a margem bruta
de rentabilidade nas operações de
crédito) aos padrões internacionais.
As observações foram feitas poucos
dias depois da desastrada decisão do
BC de manter a taxa Selic em 16,5%,
sancionando os juros mais elevados
do planeta. Na Índia, segundo Furlan, a taxa anual para financiamento
de automóveis está em torno de 6%
-enquanto no Brasil ela é de 37%.
Outras comparações com a economia indiana, também destacadas pelo ministro, parecem relativizar políticas defendidas pelas autoridades
econômicas brasileiras em harmonia com os mercados financeiros e o
Fundo Monetário Internacional. Os
acordos firmados com o FMI não enfatizam a acumulação de reservas
cambiais e impõem metas elevadas
de superávit primário das contas públicas. O objetivo é assegurar o pagamento dos juros da dívida, cuja relação com o PIB é considerada excessivamente alta. Reduzir essa relação é
uma obsessão da Fazenda para que o
país possa supostamente merecer o
"investment grade", que é a melhor
classificação de risco no ranking das
agências internacionais.
Pois a Índia já possui essa cotação,
tendo acumulado reservas de US$
100 bilhões (contra US$ 17 bilhões do
Brasil), com uma dívida pública
equivalente a 85% do PIB (a do Brasil
está em 58%) e nenhum superávit
fiscal. A economia indiana tem crescido a taxas de 6% ao ano, enquanto
no Brasil discutem-se as chances de
uma expansão de 3,5% depois de um
ano de crescimento zero. Como disse o ministro Furlan, já está na hora
de o Brasil, que tem feito tudo "by the
book" (como manda o figurino),
passar para uma nova etapa.
Ou então mudar de figurino.
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