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O BANQUETE DE ANANIAS
Numa de suas primeiras declarações depois de nomeado para o Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, Patrus
Ananias afirmou que o Brasil pode
ter mais de 350 milhões de habitantes. O ministro perdeu uma excelente
oportunidade de calar-se, exercendo
assim a virtude cardeal da prudência.
Não se trata, é claro, de defender
posições neomalthusianas, mas é
certo que o Brasil não tem nem a necessidade nem o interesse em contar
com uma população de 350 milhões
de almas. A tese do papa Paulo 6º,
que foi abraçada pelo ministro, de
que a questão não é "diminuir o número de participantes no banquete, e
sim aumentar a oferta de alimentos",
talvez fizesse sentido nos anos 60 e
70 como contraponto a políticas autoritárias de controle de natalidade,
mas hoje é insustentável.
A Igreja Católica tem, é certo, o direito de opor-se ao planejamento familiar e ao uso de camisinha. O Estado brasileiro, porém, tem o dever de
oferecer às famílias informações e
meios para evitar filhos -se este for
o seu desejo-, bem como de estimular o uso da camisinha para evitar
a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis.
No mais, basta observar as atuais
tendências demográficas para concluir que a questão dos 350 milhões
nem se coloca. A taxa de fecundidade
da mulher brasileira vem caindo rapidamente. Se há uma preocupação
mais justificada, é com o envelhecimento da população.
Uma das explicações para os menores índices de fecundidade está no
maior acesso das mulheres à educação. Ou seja, elas passam espontaneamente a ter menos filhos tão logo
se lhes oferecem melhores condições de informação -se quisermos,
tão logo possam de fato exercer o livre-arbítrio.
Isso não anula o fato de que políticas democráticas de planejamento
familiar deveriam ter sido implantadas antes, o que poderia ter contribuído para reduzir problemas sociais que hoje o país enfrenta.
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