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TENDÊNCIAS/DEBATES
Mais educação, menos pobreza
PAULO RENATO SOUZA
Há pouco mais de um ano lançamos, no município de Águas Lindas, em Goiás, o Programa Bolsa-Escola
Federal. Hoje o programa está presente
em 5.470 municípios, ou 98% dos municípios brasileiros. Restam apenas 91
prefeituras, que devem aderir ao programa em breve. Beneficiamos mais de
8,2 milhões de crianças que vivem em
4,8 milhões de famílias. Serão investidos
anualmente R$ 2 bilhões em benefícios
para garantir a presença de nossas
crianças nas escolas.
Por trás dos números, uma convicção
está presente: combater a injustificável
desigualdade social brasileira por meio
da expansão sem precedentes do sistema educacional brasileiro. O combate à
pobreza é um imperativo ético. Suas
maiores vítimas são as crianças, lançadas às ruas, ao trabalho precoce, privadas da escola, da infância, do futuro.
Agora, uma nova geração de brasileiros
está surgindo, para a qual esse será um
quadro do passado.
O Bolsa-Escola federal foi criado com
essa visão. Foi pensado grande, porque
tínhamos um grande desafio pela frente. Mobilizamos prefeitos, comunidades, professores, escolas. A medida provisória que criou o programa foi aprovada pelos parlamentares e convertida
em lei em menos de dois meses, o que
mostra que o Congresso Nacional entendeu seu grande alcance social e importância.
São atendidas as crianças de 6 a 15
anos, matriculadas no ensino fundamental. A meta é contemplar mais de 10
milhões de crianças -uma em cada
três crianças matriculadas no ensino
fundamental. Serão quase 6 milhões de
famílias com renda per capita de até R$
90 que passarão a receber R$ 15 por
mês, para cada filho. Estabeleceu-se o limite de três crianças por família, chegando o benefício familiar ao máximo
de R$ 45.
O governo federal paga o valor integral do benefício e as prefeituras ficam
encarregadas de promover ações socioeducativas.
Era preciso agir rápido, porque tirar
da miséria 6 milhões de famílias não se
faz do dia para a noite. Agimos com
muita determinação. Em menos de um
ano, o Ministério da Educação conseguiu organizar e colocar um programa
desta abrangência nas ruas e já teremos,
no próximo mês, 5 milhões de famílias
beneficiadas. Graças à agilidade dos
mecanismos criados e a uma intensa
campanha de mobilização, o Bolsa-Escola federal é o primeiro programa de
renda mínima realmente universalizado no Brasil.
A maior inovação em relação a programas de transferência de renda do
passado, no entanto, é a criação do cartão bolsa-escola. Com ele em mãos, basta que a mãe se dirija a qualquer agência, casas lotéricas ou outros agentes pagadores credenciados pela Caixa Econômica Federal para sacar o benefício.
São milhões de mães pobres que hoje
exibem com orgulho seu cartão eletrônico, até mesmo como símbolo de cidadania.
Há um efeito econômico, que de modo nenhum deve ser subestimado: em
primeiro lugar, para as famílias beneficiadas.
Não é uma renda mínima que vai tirar ninguém da pobreza; o grande objetivo é a permanência das crianças na escola
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"Eu ganho R$ 50 por mês e esse dinheiro do Bolsa-Escola vai me ajudar
bastante", diz Maria Cristina Viana, de
Capão Bonito, São Paulo. Para quem é
pobre e ganha menos de R$ 90 ao mês,
R$ 15 por criança na escola, todos os
meses do ano, faz muita diferença; passa inclusive a dar crédito no comércio
dos pequenos municípios brasileiros.
Três milhões das famílias atendidas
recebem entre R$ 30 e R$ 45. Mas também há efeitos multiplicadores na economia dos municípios: o movimento
do comércio aumenta, a oferta de trabalho se beneficia com a retirada das
crianças do mercado, o êxodo rural diminui. E não são apenas pequenas cidades que sentem esses efeitos.
Um médico de Pelotas, uma das
maiores cidades do interior do Rio
Grande do Sul, fez a conta: "A repercussão disso para a frágil economia local é a
entrada de cerca de R$ 180 mil por mês
em nossa cidade. Em um ano, significa
quase R$ 2 milhões para Pelotas" ("Diário da Manhã", 4/12/2001).
Mas não é uma renda mínima que vai
tirar ninguém da pobreza, e sim muitos
anos de estudo. O grande objetivo é a
permanência das crianças na escola.
Dados preliminares revelam que o cadastramento das famílias acompanhou
a pobreza brasileira, ou seja, nos Estados mais pobres o índice de famílias da
zona rural no programa foi maior, chegando a 43%. Nos Estados mais desenvolvidos, a população rural beneficiada
foi de 10% a 20% do total. É um primeiro indicativo da boa focalização, fundamental para o gerenciamento adequado
de outros programas sociais de combate à pobreza. É um cadastro para programas de transferência de renda que o
Bolsa-Escola está ajudando a montar,
para permitir ações coordenadas e corretamente focalizadas de superação da
miséria.
Esses são os efeitos visíveis, imediatos.
Os melhores frutos, contudo, são os que
ainda vão amadurecer, em longo prazo.
Redução da pobreza, das desigualdades,
melhor inserção dos jovens -e, por
consequência, do país- na nova economia, com cidadãos mais conscientes
e participativos, melhores índices de
educação e saúde, menos violência e criminalidade.
É uma geração para mudar o Brasil.
Paulo Renato Souza, 55, é ministro da Educação. Foi reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) de 1986 a 1990 e secretário
da Educação do Estado de São Paulo (governo
Montoro).
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