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TENDÊNCIAS/DEBATES
Trabalho sem dor
MARIA JOSÉ O'NEILL e COSMO DE MORAES JR.
LER e Dort são duas siglas de certa forma ainda novas e pouco conhecidas pela maioria das pessoas.
O primeiro passo a ser dado para conhecer o assunto com seriedade e isenção é tratá-lo com distanciamento das
questões comuns da relação capital versus trabalho, pois suas consequências já
assumem proporções que vão além dessa esfera. LER e Dort são problemas de
saúde e suas implicações gerais e seus
custos, em especial, atingem a todos.
Quando falamos em LER (Lesões por
Esforços Repetitivos) e Dort (Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), a maioria das pessoas logo pensa que nos referimos apenas às doenças
do trabalho dos digitadores. De fato foi
a tendinite do digitador que primeiro
foi reconhecida como esse tipo de patologia no Brasil -isso em 1987-, mas
logo na década de 90 o próprio INSS
ampliou esse reconhecimento e as siglas
passaram a abrigar, além da tendinite,
tenossinovite, bursite, síndrome do Túnel do Carpo e outras doenças mais.
Os dados mais recentes sobre LER e
Dort no Brasil não são muito animadores. Em 2001 o Instituto Nacional de
Prevenção às LER/Dort, em convênio
com o Ministério da Saúde, encomendou ao Datafolha uma pesquisa sobre a
incidência de LER em São Paulo. O resultado apresentou 310 mil trabalhadores com diagnóstico fornecido por médicos, o que significa 6% da população
laborativa de São Paulo. Esses números
com certeza contribuem para os R$ 12,5
bilhões gastos por ano -por empresas- com acidentes e doenças do trabalho no Brasil.
O cálculo é do economista e professor
José Pastore, da USP, que no mesmo
trabalho afirma que, se levados em consideração outros fatores (acidentados e
doentes que atuam na informalidade,
gastos diretos das vitimas etc), o governo gasta R$ 20 bilhões por ano.
Em um país onde as questões de saúde e atendimento estão ainda restritas
aos casos mais evidentes, as LER/Dort
trazem em si a agravante da sutileza do
problema. Tendo como causas o esforço físico e a repetição de movimentos,
aliados muitas vezes ao estresse e outras
condições desfavoráveis no ambiente
do trabalho, geralmente as consequências têm início com sintomas quase
sempre desconsiderados pelas pessoas e
de difícil diagnóstico, quando não há a
associação da queixa com a atividade
profissional desenvolvida.
Hoje é uma boa oportunidade para pensarmos em saúde neste país; como um bem ao qual todos têm direito
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Isso tudo ocorre, por um lado, num
momento em que termos como produtividade e competitividade fazem muitas empresas definirem seus objetivos
sem levar em conta qualquer parâmetro
que considere a capacidade humana.
Por outro lado, o desemprego faz com
que as pessoas aceitem certas condições
de trabalho.
Ironicamente, perdem todos: as empresas, porque acabam arcando com os
altos custos de problemas de saúde dos
seus empregados (isso sem falar nas
perdas de produtividade e qualidade), o
Estado, que arca com parte desse custo,
e a sociedade, que, ao pagar seus impostos, assume uma grande parcela de tudo
isso.
Hoje é o Dia Internacional de Prevenção à LER. Em 1995, um grupo de trabalhadores lesionados do Canadá instituiu esta data e, a partir de então, conseguiram sensibilizar organizações não-governamentais de todo o mundo para
o assunto.
Hoje é uma boa oportunidade para
pensarmos em saúde neste país; saúde
como um bem ao qual todo o ser humano tem direito.
Maria José Pereira da Silva O'Neill, 45, jornalista, é presidente do Instituto Nacional de Prevenção às LER/Dort. É autora de "LER/DORT - o
Desafio a Vencer". Cosmo Palásio de Moraes
Júnior, 41, é técnico de segurança do trabalho.
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