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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Beco sem saída
SÃO PAULO - A onda liberal que sucedeu a crise do Estado desenvolvimentista prometeu ajustar a economia brasileira a uma nova realidade
global, na qual o país, finalmente livre das amarras do passado estatista
e inflacionário, poderia tornar-se um
"player" capitalista moderno e competitivo. Para tanto, seria preciso aliviar o Estado de sua velha e enferrujada carcaça, promovendo reformas
liberalizantes e privatizações.
Mesmo reconhecendo alguns avanços, a maneira como o Brasil -e de
um modo geral a América Latina-
encontrou sua vaga na globalização
mostrou-se bastante problemática.
Mesmo arautos da nova ordem já reconheceram a frustração.
Não se trata de repetir a fraseologia
rasteira contra o "neoliberalismo",
mas de reconhecer que a administração equivocada do câmbio no Plano
Real, em combinação com a política
de liberalização de capitais e a crença supersticiosa na capacidade de
coordenação do desenvolvimento pelos mercados, levou o país a um impasse. Economistas já descreveram
exaustivamente a chamada dinâmica do "vôo da galinha".
Os maus resultados da aventura liberal -crescimento medíocre, juros
altos, vulnerabilidade externa-
abriram horizontes para correções
de rumo. A lógica hegemônica, no
entanto, conseguiu fazer com que
qualquer perspectiva de mudança
aparecesse aos olhos da sociedade como irresponsável. Mudar é maluquice -como desejar reformar a natureza. A simples menção à idéia de o
Estado retomar a coordenação do
desenvolvimento tornou-se "populismo" -conceito esvaziado e enviesado para representar os piores defeitos
de um Estado perdulário e intervencionista. Uma espécie de xingamento
equivalente, pelo lado liberal, ao
"neoliberalismo" da esquerda.
O governo petista, como se sabe,
comprou o pacote do cânone vigente
e dobrou a aposta. Com isso, parece
não ter outra alternativa senão conduzir ele mesmo e o país a um perigoso "cul-de-sac".
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