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Imagens de campanha
Proximidade entre Dilma e Serra apontada por pesquisa Datafolha não elimina as incógnitas
da disputa presidencial
O CRESCIMENTO de Dilma
Rousseff na pesquisa
eleitoral do Datafolha,
divulgada nesta edição, corresponde à intensa exposição da candidata governista
nestas últimas semanas.
Como nunca, investiu-se na
estratégia que vem prosseguindo, sem tropeços, há mais de um
ano: identificar a ministra com a
continuidade do lulismo, numa
série de inaugurações e eventos
que, na prática, equivalem a verdadeiros comícios eleitorais.
Sem tempo a perder com disputas internas no PT, o presidente Lula decidiu por si próprio
o nome de quem queria ver na
disputa sucessória, e empenha-se em transformar uma ministra
virtualmente desconhecida da
maioria da população, a que não
faltam modos rebarbativos e íngreme altaneria tecnocrática,
numa jovial arquiteta da prosperidade popular.
Ainda que seja mais importante discutir projetos de governo e
práticas políticas do que os traços subjetivos de cada candidato,
é fato que manipulações de imagem e atitudes pessoais ganham
relevo nas decisões de cada eleitor. Não faltam a Dilma Rousseff
experiência administrativa e familiaridade com os recônditos
do poder palaciano; é ainda uma
incógnita o quanto, no cotidiano
da campanha, saberá substituir
hábitos intransigentes de comando pela flexibilidade afável
que a publicidade recomenda.
Curiosamente, esse mesmo tipo de desafio pessoal se coloca
para seus adversários mais próximos na disputa, José Serra
(PSDB) e Ciro Gomes (PSB). Na
mais benigna das hipóteses, ambos padecem aliás de um atraso
nos respectivos cronogramas de
campanha, seja por hesitação,
seja por uma questão de cálculo;
um misto, talvez, das duas coisas.
Vendo diminuir em até dez
pontos percentuais, em menos
de dois meses, a distância que o
separa de Dilma Rousseff, o tucano exaspera alguns de seus correligionários, pela demora em
assumir os riscos de uma candidatura em campo aberto.
É natural que o candidato mais
forte resista à aceleração de sua
campanha, uma vez que aumenta o tempo de sua exposição aos
ataques dos adversários; paralelamente, a nenhum líder político
convém parecer acomodado,
omisso ou timorato.
Cabe notar, a propósito, um
aumento na rejeição a Serra (de
19% para 25%), e mesmo sinais
de que eleitores antes inclinados
a votar em seu nome manifestam
agora preferência pela petista.
Novamente, não há nada nestas considerações com respeito
às imagens pessoais de Dilma,
Serra ou Ciro que uma eficiente
assessoria de marketing não saiba contornar -ainda mais quando, nas semanas que antecederem as eleições, pouca memória
restará deste momento incipiente da campanha.
O que se pode registrar, desde
já, e com desalento, é a ausência
de visões distintas de governo, de
caminhos alternativos para o futuro, nas considerações eleitorais. É assim que o peso do marketing e das personalidades
-reais ou construídas- termina
sendo uma das variáveis em pauta quando se tenta prever os próximos passos da disputa.
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