São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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Editoriais

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Show na cracolândia

FOI um espetáculo de descoordenação entre instâncias do poder público a operação de combate ao tráfico de crack no centro de São Paulo realizada pela Polícia Civil na última quinta-feira.
A necessidade de agir contra uma situação de crônica degradação não justifica os erros cometidos. É certo, como declarou o delegado encarregado da ação, que a região da cidade conhecida como cracolândia, onde vagam fantasmas humanos idiotizados pela droga, não conhece melhora há duas décadas. "São 19 anos sem que ninguém tome uma providência", disse o policial.
É difícil acreditar no entanto que a situação de abandono dessa área da cidade e o drama dos consumidores de crack possam ser superados com operações esporádicas de apelo midiático.
Policiais fortemente armados indiciaram 33 suspeitos de comercializar a droga. Outras 300 pessoas, consumidoras de crack, foram detidas. Sob os olhares de repórteres e cinegrafistas, o séquito de maltrapilhos foi conduzido, em fila, até uma base da Guarda Civil Metropolitana -de onde saiu em seguida, em correria e algazarra.
O próprio secretário da Saúde do município classificou a ação como um inútil "espetáculo pirotécnico". Após as repercussões da desastrada operação, a prefeitura e o governo do Estado reconheceram o óbvio -deveria ter havido maior entrosamento entre policiais e agentes de saúde.
É essa, dizem, a diretriz da ação integrada das duas esferas públicas na cracolândia, que teve início em julho do ano passado. A atuação conjunta buscaria conjugar repressão ao tráfico com atendimento aos usuários.
Até aqui, todavia, os resultados desse esforço parecem pífios. Basta circular pelo centro da cidade para constatá-lo.


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