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RISCOS DA NOVA INFLAÇÃO
A inflação está de volta. Por quanto tempo, com qual intensidade e
com quais perspectivas, entretanto,
são questões que ainda é cedo para
responder. Apenas o fato é, em si,
inegável, compondo um quadro angustiante que inclui a desvalorização
cambial acima do esperado, um desemprego crescente e fortes inquietações em torno da capacidade do
governo levar adiante o ajuste fiscal.
A reversão da situação atual não é
obviamente impossível, mas apenas
se torna cada vez menos previsível a
cada indicador econômico divulgado, ao mesmo tempo em que as condições políticas tornam mais incertas as bases de sustentação do governo Fernando Henrique Cardoso.
É verdade que, em vários países, a
crise cambial foi semelhante e, num
período de três a seis meses, os exageros da desvalorização finalmente
passaram e um novo equilíbrio foi alcançado. Estudo recente preparado
por técnicos do FMI, por exemplo,
calcula em cerca de 29% desde 1980
os casos de sucesso, em que a moeda
local volta a se valorizar num prazo
de tempo relativamente curto.
Talvez o Brasil se enquadre nessa
categoria. No entanto, entre as condições de sucesso está a capacidade
de o governo promover um verdadeiro choque de juros. Algo semelhante,
aliás, ao que o governo brasileiro
promoveu no ano passado, quando,
de fato, foi bem sucedido ao evitar
-ou, agora se sabe, adiar- um colapso completo da moeda.
Hoje, com menos reservas internacionais em caixa, com muito menos
espaço político e técnico para promover um choque de juros e com dificuldades para restaurar as linhas de
crédito externo, a economia brasileira tem menos chances de atravessar
rapidamente o intrincado percurso
da correção cambial.
Uma das hipóteses possíveis é o governo brasileiro ser levado a uma linha de atuação acomodatícia, sem
buscar uma reversão muito rápida da
desvalorização cambial e, em última
análise, aceitar algum impacto inflacionário em decorrência da desvalorização do real. Nesse segundo cenário, a prioridade não é conseguir reduzir ao máximo a inflação ou mesmo fazer o dólar recuar. Mais urgente é evitar flutuações excessivas do
câmbio e uma disparada dos preços.
Seria uma perspectiva com dificuldades maiores e uma transição mais
longa rumo a uma nova estabilidade.
Mas já se poderia considerar razoável
chegar ao final de 1999 com uma inflação em torno de 15% ao ano e uma
desvalorização real (ou seja, descontada a inflação) próxima dos 30%,
sem reindexação da economia e sem
descontrole inflacionário.
Entretanto, quanto mais durar essa
travessia, maiores serão os seus riscos, a começar pelas inevitáveis pressões pela reindexação de salários e
contratos. Afinal, o Brasil desenvolveu como poucos países uma tecnologia e uma memória coletiva de convívio intenso com a inflação.
Se a reindexação ocorrer ou se na
longa travessia a inflação continuar
em alta, pressionando novamente as
taxas de câmbio e juros, o país voltará a um círculo vicioso do qual só sairá, como tem feito, apelando para
um novo plano econômico ou um
choque forte o suficiente para eliminar, novamente, a indexação.
Mas a probabilidade de cada um
desses cenários não dependerá apenas de fatores internos. A restauração da credibilidade do país nos mercados externos é decisiva. O resgate
de apoios políticos internos também. E, embora nenhuma dessas
condições esteja hoje presente, tudo
depende de como, com que intensidade e com quais perspectivas evoluirá a novíssima inflação brasileira.
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