|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENCONTRO DE CONTAS
A questão cambial tem dominado
as atenções, mas há uma questão
fundamental que, sem solução, trará
problemas a qualquer regime cambial. Trata-se da ausência de um sistema confiável, no longo prazo, de
financiamento do setor público.
A busca de soluções criativas torna-se ainda mais premente quando
aumentam os riscos de escalada da
inflação e prolongamento de uma
política de juros elevados.
Entre as prioridades figuram os
problemas de financiamento dos governos estaduais e da previdência social. Há também a proposta do encontro de contas entre União e Estados, viabilizando a renegociação das
dívidas estaduais e os passivos previdenciários, uma das propostas que,
mesmo não sendo nova, até hoje
nunca recebeu a devida atenção. O
colunista desta Folha, Luís Nassif,
vem recuperando esse debate.
Alguns governadores também começam a dar maior atenção ao tema e
talvez constituam uma linha de frente na construção dessa alternativa.
Em linhas gerais, trata-se de criar
fundos estaduais, lastreados em ativos que serão vendidos (ou seja, privatizados) ao longo do tempo. Os recursos garantiriam a solvência dos
compromissos previdenciários dos
governos estaduais. Previamente, seriam zeradas as pendências de dívidas entre União e Estados.
Os detalhes técnicos desse encontro de contas, em termos financeiros
e jurídicos, exigirão um esforço nada
desprezível de coordenação entre os
Executivos federal e estaduais.
Não é difícil entender porque esse
tipo de proposta nunca prosperou.
Afinal, trata-se de uma forma pragmática ou indireta de admitir que o
estoque de dívidas do setor público é
impagável sob as atuais condições.
Naturalmente, a mera hipótese de
admitir esse quadro sempre foi considerada como a ante-sala de uma
crise mais ampla de credibilidade na
solvência do governo.
Entretanto, essa credibilidade já está a tal ponto arranhada e as condições de financiamento da dívida estatal aproximam-se a tal ponto da inviabilidade que, a rigor, a proposta
de uma reestruturação patrimonial
pode ser o menor dos males.
Está em jogo nada menos que a possibilidade de construir um novo regime fiscal no Brasil, mudança que
vem sendo tentada há anos e que exigirá, ainda, passos na direção de uma
reforma tributária mais ampla.
O acerto contribuiria para a recuperação da credibilidade dos governos,
sobretudo porque vai se dar sob uma
legislação mais rigorosa contra os
crimes de responsabilidade fiscal.
Mais que nunca, o país precisa evitar o velho vício de fazer arranjos de
ocasião, que premiam os maus gestores do passado e transferem o ônus
da conta para as gerações futuras.
Texto Anterior: Editorial: RISCOS DA NOVA INFLAÇÃO Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: O complexo de Masada Índice
|