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MARCELO BERABA
A sangue-frio
RIO DE JANEIRO - A notícia mais impressionante da semana é a chacina
de Batatais, no interior de São Paulo.
É impressionante pela atrocidade, é
impressionante pelas circunstâncias.
Já estamos tão acostumados com os
crimes "sociais", aqueles que ocorrem
no ambiente degradado das grandes
cidades, provocados pela miséria e
pela exclusão, que um crime desta
natureza -familiar, praticado por
motivos fúteis, no miolo de uma das
regiões mais ricas do país e sem que
tenha sido cometido para obter uma
vantagem financeira- nos parece
inverossímil.
O rapaz e sua namorada não mataram os pais e três irmãos dele para
ficar com os bens ou para roubar e
comprar drogas. Mataram por ódio.
Ódio, dizem, porque não suportavam
que interferissem no relacionamento
do casal.
As vítimas foram espancadas com
barras de ferro e esfaqueadas. O crime foi planejado. Tudo nele é superlativo e ofusca os casos mais escabrosos do jornalismo sensacionalista.
Nossos problemas não estão apenas
nas regiões metropolitanas inchadas
e nas suas periferias ocupadas pelo
tráfico de drogas e pelos comandos
criminosos.
A cultura da violência se esparramou. Está nas ruas, mas também se
alojou dentro das casas. Os conflitos
não se resolvem com conversas ou
com brigas, mas com mortes. O inimigo pode ser qualquer um, inclusive
um familiar.
Esse crime não estaria completo
sem mais alguma falha grave. Ontem, os dois criminosos confessos,
Carlos Fabiano, 24, e Edna Emília,
20, foram espancados por outros presos dentro da delegacia onde deveriam estar sob proteção da polícia.
Edna está internada com 150 pontos
na cabeça. Barbárie por barbárie, é
apenas mais uma.
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