São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 2002

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MARCELO BERABA

A sangue-frio

RIO DE JANEIRO - A notícia mais impressionante da semana é a chacina de Batatais, no interior de São Paulo. É impressionante pela atrocidade, é impressionante pelas circunstâncias.
Já estamos tão acostumados com os crimes "sociais", aqueles que ocorrem no ambiente degradado das grandes cidades, provocados pela miséria e pela exclusão, que um crime desta natureza -familiar, praticado por motivos fúteis, no miolo de uma das regiões mais ricas do país e sem que tenha sido cometido para obter uma vantagem financeira- nos parece inverossímil.
O rapaz e sua namorada não mataram os pais e três irmãos dele para ficar com os bens ou para roubar e comprar drogas. Mataram por ódio. Ódio, dizem, porque não suportavam que interferissem no relacionamento do casal.
As vítimas foram espancadas com barras de ferro e esfaqueadas. O crime foi planejado. Tudo nele é superlativo e ofusca os casos mais escabrosos do jornalismo sensacionalista.
Nossos problemas não estão apenas nas regiões metropolitanas inchadas e nas suas periferias ocupadas pelo tráfico de drogas e pelos comandos criminosos.
A cultura da violência se esparramou. Está nas ruas, mas também se alojou dentro das casas. Os conflitos não se resolvem com conversas ou com brigas, mas com mortes. O inimigo pode ser qualquer um, inclusive um familiar.
Esse crime não estaria completo sem mais alguma falha grave. Ontem, os dois criminosos confessos, Carlos Fabiano, 24, e Edna Emília, 20, foram espancados por outros presos dentro da delegacia onde deveriam estar sob proteção da polícia. Edna está internada com 150 pontos na cabeça. Barbárie por barbárie, é apenas mais uma.


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