|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Aqueles olhos azuis
LONDRES - Conotação racista à
parte, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva tem razão ao dizer que a
crise é culpa dos "brancos de olhos
azuis". O diretor-gerente do Fundo
Monetário Internacional, o socialista francês Dominique Strauss-Khan, comentou ontem a frase e a
análise, com mais classe. Disse, primeiro, que gosta da maneira como
Lula faz certos comentários, para
emendar que, de fato, a crise "surgiu no coração do sistema".
E o coração do sistema, como todo o mundo está cansado de saber, é
branco, se por branco se entender a
hegemonia de um setor da sociedade majoritariamente branco.
OK, o presidente tem razão. E
daí? Daí, nada, rigorosamente nada.
Apenas divertiu por uns minutos os
bajuladores de plantão, que riem de
tudo o que Lula diz, e a mídia britânica, que reproduziu o dito abundantemente nos minutos seguintes. Depois, sumiu completamente,
pois não leva a nada, a não ser que
Lula entenda que a crise vai desaparecer porque Obama, um negro, é
agora o piloto da crise dos brancos.
Ou que pretenda ressuscitar Leonel Brizola e seu "socialismo moreno". Ou entronizar Evo Morales e
seu indigenismo como o novo padrão universal de comportamento.
Ou demitir o branco Henrique Meirelles e transferir o ministro dos Esportes, Orlando Silva, para o lugar.
Tolices e racismo à parte, o importante nessa história não é a cor
dos olhos ou da pele de quem provocou a crise, mas a desídia, a impotência ou a conivência, ou tudo isso
junto, que de fato levaram a ela. Um
modelo, supostamente branco, que
Lula, aliás, adotou com todo o furor
habitual nos recém-conversos.
A sociologia e a antropologia universais sobreviverão sem sustos às
gracinhas do presidente brasileiro.
Ainda bem que os negociadores
brasileiros do G20 falam a sério
com seus pares brancos e de olhos
azuis, o que eventualmente pode
ajudar a melhorar o ambiente geral,
risadas à parte.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Mau começo
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Simulacro de indignação Índice
|