|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DEMOCRACIA NA CHINA
Embora pareça lamentável,
não é surpreendente a decisão
do governo chinês de vetar a realização de eleições diretas em Hong
Kong. Pequim segue apostando em
sua versão da "abertura lenta, gradual e segura". Está disposta a fazer
concessões aos movimentos pró-democracia, desde que não veja risco de
perder o controle.
Assim, se, de um lado, o governo
central comunista proíbe Hong
Kong de promover mudanças na legislação que permitiriam a eleição
direta de um governador em 2007, de
outro, em julho do ano passado,
após uma série de manifestações,
voltou atrás na decisão de introduzir
na Província uma draconiana lei de
segurança nacional.
É o ritmo chinês. Cabe certamente
ao Ocidente pressionar por reformas. Quanto mais democracia, e
quanto antes, melhor. Reconhecer
esse axioma não impede que se dê
certa razão ao ministro das Relações
Externas chinês, Li Zhaoxing, quando se queixa de que Estados Unidos e
Reino Unido se utilizam de critérios
desiguais para julgar a China.
Como lembrou o chanceler, não
sem uma ponta de ironia, Hong
Kong jamais se notabilizou por ser
uma democracia durante os 156 anos
em que permaneceu sob domínio
britânico. A ilha só gozou de relativas
liberdades por uns poucos anos nas
décadas de 40 e de 90.
A questão fundamental é que, à
medida que a China amplia suas relações com o resto do mundo, mais
cobranças sofrerá para implementar
reformas democráticas -e não apenas em Hong Kong. No mesmo sentido, a adoção de políticas capitalistas tende a introduzir na sociedade
chinesa novas diferenciações, demandas e conflitos, que acabarão
por gerar pressões em busca de espaços institucionais para se expressar.
É evidente por si só a complexidade
da implantação de um regime democrático num país com as características demográficas, históricas e culturais da China -mas isso só enfatiza
o vulto e a importância do desafio.
Texto Anterior: Editoriais: NEGOCIAÇÃO DIFÍCIL Próximo Texto: Bruxelas - Clóvis Rossi: Como é mesmo, Lula? Índice
|