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CLÓVIS ROSSI
Como é mesmo, Lula?
BRUXELAS - O presidente da República revela ou crescente dificuldade
em expressar com clareza suas idéias
ou crescente distanciamento da realidade. Em qualquer caso, é muito
ruim.
Os exemplos são muitos, mas fiquemos nos dois mais recentes, ambos
extraídos de sua fala aos metalúrgicos do ABC.
Primeiro exemplo: "Todo mundo
que ganha um salário mínimo adoraria ganhar o que os metalúrgicos
ganham para pagar IR" (Imposto de
Renda).
Não faz o menor sentido. Ninguém,
mas ninguém mesmo, nem no ABC,
nem no Brasil, nem em qualquer lugar do mundo, gosta de pagar imposto (qualquer imposto).
Não é, pois, para pagar IR que
quem ganha salário mínimo gostaria
de ganhar mais. Quem ganha salário
mínimo gostaria de ganhar mais porque a sua renda é indecentemente
baixa. Aliás, os metalúrgicos, embora
não ganhem o mínimo e, segundo o
presidente, paguem IR, também gostariam de ganhar mais.
Esse gosto por um salário maior, de
resto, é responsável pelo fato de Lula
ser presidente da República. Não tivesse liderado greves por salários
maiores, não teria ficado conhecido
e, por extensão, não teria chegado ao
Palácio do Planalto.
Segundo exemplo: "Rico não tem
problema de dente. É pobre que tem
dor de dente, que coloca cachaça, coloca álcool. Alguns até bebem um
pouquinho para dizer que vai curar a
dor de dente".
Outra, digamos, imprecisão. Rico
também tem dor de dente. A diferença é que pode resolvê-la pagando o
custo de dentistas de alto nível, a que
não podem ter acesso os trabalhadores de salário mínimo, que, de resto, o
governo do Partido dos Trabalhadores se recusa a aumentar como seria
devido, alegando que o problema é o
gasto da Previdência, exatamente o
mesmo argumento que os antecessores de Lula usaram e o PT e Lula rejeitavam.
Alguma surpresa com a vaia que o
presidente tomou de alguns de seus
ex-colegas metalúrgicos?
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