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São Paulo, sábado, 28 de junho de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Lula e o Brasil

RIO DE JANEIRO - Há dez anos, quando ocupei este espaço, que era do Otto Lara Resende, escrevi uma crônica em que comentava um fato policial nas entranhas de um dos diretórios do PT, um caso de morte entre dois militantes, não se sabia se por causa de desvio de dinheiro ou por disputa passional pela mesma mulher.
Por acaso, eu estava lendo, na ocasião, depoimentos sobre os inícios do Partido Nazista na Alemanha, ali por volta de 1931, ou seja, dois anos antes de o partido chegar ao poder. Fiz uma comparação pontual e muitos leitores me acusaram de estar acusando o PT de nazismo. Volta e meia, sou interpelado sobre o assunto, com estranheza, pois, durante os oito anos de FHC, fui dos que mais combateram as prioridades e práticas de seu governo.
A impressão que o PT me dava, na ocasião, era a de um partido messiânico, desvinculado da história, do tempo e do modo. Admirava, como admiro cada vez mais, pessoas como Lula, Mercadante, Dirceu, Suplicy, Genoino e algumas dezenas de militantes que conheço de longuíssima data.
Fui dos milhões de brasileiros que, mesmo sem votar em ninguém nas últimas eleições, folgaram com a vitória de Lula. Quase sete meses passados, descubro o lado messiânico do PT, que repete alguma coisa da Alemanha nos anos 30: a linha direta do partido e, principalmente, de seu chefe, com a história, com o destino, com Deus. Acertando ou errando no varejo, como qualquer outro partido, no atacado, o partido e seu chefe são infalíveis, frequentam o monte Sinai e de lá, após conversarem com Deus na sarça ardente, trazem as tábuas da lei, contra as quais nem terremotos, nem Congresso, nem juízes e muito menos jornalistas corrompidos e corruptores poderão atrapalhar os planos de salvação nacional.
Na crônica da última quinta-feira, fiz duas perguntas: o que Lula fará com o Brasil? O que o Brasil fará com Lula?


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