São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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A crise continua

Ao citar "campanha midiática", presidente do Senado ingressa num caminho já trilhado por seus antecessores

ARRASTA-SE , por um caminho já muitas vezes percorrido de descrédito e denúncias, a crise que acomete o Senado Federal. Concentra-se hoje na figura de seu presidente, José Sarney (PMDB-AP), como anteriormente aconteceu com Renan Calheiros, Jader Barbalho ou Antonio Carlos Magalhães.
Mudam os nomes, o problema permanece. A instituição se tornou território dividido entre um grupo de mandatários que parece reproduzir, no plano federal, o gênero de atitudes que sempre lhes garantiu, em seus Estados de origem, o domínio quase feudal da máquina pública.
O sentido do termo "máquina pública" parece, aqui, especialmente apropriado -na medida em que as técnicas do empreguismo, da utilização de funcionários e verbas de exercício do mandato para fins estritamente pessoais e da troca de favores parecem funcionar de modo perfeitamente azeitado e automático.
Aceite-se a visão mais benévola possível do fenômeno -e o quadro não será menos deprimente. Não é impossível, dadas as condições vigentes, que alguns senadores até mesmo tenham ficado sinceramente surpreendidos ao se verem criticados por procedimentos que, na sua rotina de privilégios e de desconsideração pela conduta exigida pelos cidadãos, se lhes afiguravam como normais.
Não seria impossível, tampouco, que alguns senadores nem mesmo soubessem dos funcionários fantasmas que tinham lotados em seus gabinetes.
A multidão de apaniguados, a intransparência geral, os costumes cordialíssimos da camaradagem e da fisiologia -tudo contribui para que os senadores vivam não apenas num mundo separado daquele do conjunto da população, mas também num plano de mandarinato político em que as comezinhas tarefas de nomear parentes, providenciar mordomias e vantagens podem ser delegadas a prepostos de confiança, sem os incômodos da responsabilidade pessoal direta.
Numa de suas diversas declarações em meio à crise, o senador José Sarney afirmou que, ocupando um alto cargo político, não lhe competia gerir administrativamente a Casa, ou cuidar das contas "da despensa". Disso, como se sabe, cuidam funcionários -servidores nomeados por senadores, vale ressaltar.
Ocorre que, se de alta política se trata, cumpre pensar no Senado como uma instituição a ser reformada em profundidade -eliminando a grande maioria dos cargos nomeados, impondo austeridade e transparência nas suas contas internas, rompendo com uma teia de vantagens das quais todos os seus membros se beneficiam.
Atribuindo a uma "campanha midiática" a sequência de escândalos que atinge a Casa que preside, o atual presidente do Senado segue o caminho inverso. É aquele, bastante conhecido, do desgaste que atingiu vários predecessores seus; e que continuará condenando a instituição a ser não o palco de elevadas decisões, mas a despensa de luxo onde se abastecem os agregados e familiares dos donos do poder.


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