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A crise continua
Ao citar "campanha midiática", presidente do Senado ingressa num caminho já trilhado por seus antecessores
ARRASTA-SE , por um caminho já muitas vezes
percorrido de descrédito e denúncias, a crise que acomete o Senado Federal. Concentra-se hoje na figura
de seu presidente, José Sarney
(PMDB-AP), como anteriormente aconteceu com Renan Calheiros, Jader Barbalho ou Antonio Carlos Magalhães.
Mudam os nomes, o problema
permanece. A instituição se tornou território dividido entre um
grupo de mandatários que parece reproduzir, no plano federal, o
gênero de atitudes que sempre
lhes garantiu, em seus Estados
de origem, o domínio quase feudal da máquina pública.
O sentido do termo "máquina
pública" parece, aqui, especialmente apropriado -na medida
em que as técnicas do empreguismo, da utilização de funcionários e verbas de exercício do
mandato para fins estritamente
pessoais e da troca de favores parecem funcionar de modo perfeitamente azeitado e automático.
Aceite-se a visão mais benévola possível do fenômeno -e o
quadro não será menos deprimente. Não é impossível, dadas
as condições vigentes, que alguns senadores até mesmo tenham ficado sinceramente surpreendidos ao se verem criticados por procedimentos que, na
sua rotina de privilégios e de desconsideração pela conduta exigida pelos cidadãos, se lhes afiguravam como normais.
Não seria impossível, tampouco, que alguns senadores nem
mesmo soubessem dos funcionários fantasmas que tinham lotados em seus gabinetes.
A multidão de apaniguados, a
intransparência geral, os costumes cordialíssimos da camaradagem e da fisiologia -tudo contribui para que os senadores vivam não apenas num mundo separado daquele do conjunto da
população, mas também num
plano de mandarinato político
em que as comezinhas tarefas de
nomear parentes, providenciar
mordomias e vantagens podem
ser delegadas a prepostos de confiança, sem os incômodos da responsabilidade pessoal direta.
Numa de suas diversas declarações em meio à crise, o senador
José Sarney afirmou que, ocupando um alto cargo político,
não lhe competia gerir administrativamente a Casa, ou cuidar
das contas "da despensa". Disso,
como se sabe, cuidam funcionários -servidores nomeados por
senadores, vale ressaltar.
Ocorre que, se de alta política
se trata, cumpre pensar no Senado como uma instituição a ser reformada em profundidade -eliminando a grande maioria dos
cargos nomeados, impondo austeridade e transparência nas
suas contas internas, rompendo
com uma teia de vantagens das
quais todos os seus membros se
beneficiam.
Atribuindo a uma "campanha
midiática" a sequência de escândalos que atinge a Casa que preside, o atual presidente do Senado segue o caminho inverso. É
aquele, bastante conhecido, do
desgaste que atingiu vários predecessores seus; e que continuará condenando a instituição a ser
não o palco de elevadas decisões,
mas a despensa de luxo onde se
abastecem os agregados e familiares dos donos do poder.
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