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PRISÃO TARDIA
Salta aos olhos como na CPI
dos Correios a investigação das
denúncias tem cedido espaço ao espetáculo e ao exibicionismo político.
O pedido de prisão preventiva de
Marcos Valério de Souza, enviado
ontem ao Ministério Público Federal,
parece ser o mais novo lance teatral
dos membros da comissão.
O argumento é que haveria mais
evidências indicando a orquestração,
pelo publicitário, de um esquema de
eliminação de provas vitais para as
apurações. O indício mais forte é
uma conversa, gravada por meio de
escuta telefônica, entre os irmãos
Marco Túlio e Marco Aurélio Prata,
na qual os dois aparentemente tramam a destruição de documentos
comprometedores. Marco Túlio é o
policial aposentado suspeito de já ter
queimado papéis da DNA propaganda, uma empresa de Valério.
Embora não se questione a eloqüência desses indícios ou o direito
de pedir a prisão do publicitário, é de
perguntar por que o requerimento
não foi encaminhado antes. Afinal, é
notório que documentos de ao menos uma das empresas de Valério foram parcialmente destruídos.
Por que só agora a preocupação
com a preservação das provas? Além
disso, num país em que traficantes
conseguem controlar seus negócios
de dentro das prisões, é difícil acreditar que enclausurar Valério possa impedi-lo de reduzir a pó documentação capaz de comprometê-lo. O pedido de prisão preventiva mostra-se,
assim, tardio e pouco eficaz para
atingir o propósito alegado.
A ânsia de deputados e senadores
em brilhar sob os holofotes da CPI
não pode comprometer os trabalhos
da comissão. O depoimento de Renilda de Souza, mulher de Valério,
por exemplo, durou 12 horas e apenas uma declaração relevante foi produzida -a de que o ex-ministro José
Dirceu sabia dos empréstimos ao PT.
E mesmo essa afirmação não foi fruto da competência dos inquiridores,
pois tratou-se com clareza de algo
cuidadosamente planejado.
É indispensável que a CPI ganhe
em eficiência e caminhe mais rapidamente no sentido de analisar a documentação disponível e esclarecer os
detalhes do esquema que investiga.
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