|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Legalize-se a corrupção
SÃO PAULO - Quer dizer, então, que José Dirceu, ícone do PT, agora mudo
(só fala por meio de notas), pode chamar de companheiro ninguém menos que Eduardo Azeredo, presidente
nacional do PSDB?
Companheiros pelo menos na dinheirama de Marcos Valério, o símbolo da trambicagem.
Chegou-se à fase da esbórnia em
que ninguém grita "sou inocente".
Mas todos gritam "ele também é culpado". Puro pântano.
No meio da esbórnia, ressurge lépido o desaparecido senador Aloizio
Mercadante (PT-SP), para lamentar
que o PSDB não tenha revelado antes
detalhes do esquema Marcos Valério.
Facilitaria a investigação, acha o senador. Perfeito. Pena que tenha esquecido de dizer que, se o PT abrisse
todo o esquema Delúbio Soares/Marcos Valério, nem seria necessária
uma investigação, porque o esgoto
passaria a correr a céu aberto.
Pena também que o PT não possa
confessar tudo. Se já ruiu a espinha
dorsal do partido (presidente, secretário-geral e tesoureiro) com o pouco
que se sabe, imagine o que ocorreria
com a verdade toda.
Nesta altura do jogo, suspeito que
está na hora de o Brasil resgatar valores caros à pátria, mas que foram
desmoralizados. O "rouba mas faz",
por exemplo. É indecente, mas não é
melhor que "o rouba mas NÃO faz",
bem mais disseminado?
Seria o caso aliás de legalizar o caixa dois. Se o presidente da República,
que se acha o supra-sumo da ética,
confessa que todo mundo, inclusive o
seu partido, faz caixa dois, então o
esquema é invencível. Juntemo-nos
todos a ele, pois.
De quebra viria a legalização da lavagem de dinheiro, sempre associada ao caixa dois. Assim, ninguém
mais precisaria levar grana na cueca, não haveria a tal de contaminação da economia pela crise e todos
seriam declarados inocentes.
Os honestos reclamariam? Bah; são
tão poucos que metade dos eleitores
não consegue enxergar um só.
@ - crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: ESTÍMULO PARA O CENTRO Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Caminho da roça Índice
|