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A AMEAÇA DA DÍVIDA
O governo acaba de divulgar dados
sobre suas contas. Pela primeira vez
desde o início do mandato do presidente FHC reduziu-se a dívida pública em relação ao PIB.
A melhora nos números, entretanto, reflete fatores que não estarão
presentes nos próximos meses.
O mais importante é a redução das
taxas de juros, que dificilmente prosseguirá. Aliás, como a inflação caiu
mais rápido que o esperado, os juros
ficam maiores em termos reais, ou
seja, descontada a inflação menor.
A melhora na arrecadação, de outro
lado, resultou em boa medida da cobrança da CPMF -taxa casuísta que
já não trará tanto alívio no futuro.
A Fazenda ganhou a briga pela utilização dos recursos da privatização.
O balanço fiscal já incorpora receitas
dos leilões da banda B da telefonia
celular, por exemplo. Esse tipo de receita certamente crescerá nos próximos meses. Mas a privatização é finita. De onde virão os recursos depois?
Esse "depois" é especialmente
preocupante quando se leva em conta que a contenção de salários no setor público, federal e estadual, será
submetida em 1998 às enormes pressões típicas de períodos eleitorais.
Outros fatores, como a recomposição das tarifas públicas (aumentando
a receita das estatais) ou manobras
contábeis (cobrança de dívidas internas ao setor público), também não
são ganhos de caráter permanente. E
a economia vem crescendo menos, o
que significa também que fica mais
difícil preservar as melhoras nos dados em relação ao PIB.
Por fim, uma questão macroeconômica fundamental. A inflação está
caindo, mas o governo optou por
uma aceleração das desvalorizações
cambiais. Mesmo supondo juros externos estáveis, para o investidor estrangeiro reduz-se o chamado cupom (retorno medido em dólares).
Para manter o cupom num ambiente de desvalorização cambial mais
forte, os juros precisariam subir. Se
juros estáveis com inflação em queda
já preocupam, o que dizer de taxas
que seriam então crescentes?
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