São Paulo, quinta, 28 de agosto de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A AMEAÇA DA DÍVIDA

O governo acaba de divulgar dados sobre suas contas. Pela primeira vez desde o início do mandato do presidente FHC reduziu-se a dívida pública em relação ao PIB.
A melhora nos números, entretanto, reflete fatores que não estarão presentes nos próximos meses.
O mais importante é a redução das taxas de juros, que dificilmente prosseguirá. Aliás, como a inflação caiu mais rápido que o esperado, os juros ficam maiores em termos reais, ou seja, descontada a inflação menor.
A melhora na arrecadação, de outro lado, resultou em boa medida da cobrança da CPMF -taxa casuísta que já não trará tanto alívio no futuro.
A Fazenda ganhou a briga pela utilização dos recursos da privatização. O balanço fiscal já incorpora receitas dos leilões da banda B da telefonia celular, por exemplo. Esse tipo de receita certamente crescerá nos próximos meses. Mas a privatização é finita. De onde virão os recursos depois?
Esse "depois" é especialmente preocupante quando se leva em conta que a contenção de salários no setor público, federal e estadual, será submetida em 1998 às enormes pressões típicas de períodos eleitorais.
Outros fatores, como a recomposição das tarifas públicas (aumentando a receita das estatais) ou manobras contábeis (cobrança de dívidas internas ao setor público), também não são ganhos de caráter permanente. E a economia vem crescendo menos, o que significa também que fica mais difícil preservar as melhoras nos dados em relação ao PIB.
Por fim, uma questão macroeconômica fundamental. A inflação está caindo, mas o governo optou por uma aceleração das desvalorizações cambiais. Mesmo supondo juros externos estáveis, para o investidor estrangeiro reduz-se o chamado cupom (retorno medido em dólares).
Para manter o cupom num ambiente de desvalorização cambial mais forte, os juros precisariam subir. Se juros estáveis com inflação em queda já preocupam, o que dizer de taxas que seriam então crescentes?



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.