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LUZ VERMELHA
A maneira sensacionalista com que
a mídia, de modo geral, vem noticiando o processo de soltura do detento João Acácio Pereira, o "Bandido da Luz Vermelha", contribui para
a folclorização do personagem, que
já se transformou num objeto de consumo entre exótico e simpático.
Algo semelhante ocorreu em relação a Leonardo Pareja -confundido
com um personagem ficcional, tornou-se para muitos uma figura positivamente carismática.
O brasileiro tem uma relação ambígua com um certo tipo de bandidagem. Na década de 70, houve o caso
de Lúcio Flávio. Assim como "Luz
Vermelha", o assaltante virou tema
de filme. Nos anos 80, foram mitificados personagens como Hosmany
Ramos e traficantes como "Escadinha". Ao se tornarem, de modo pouco crítico, personalidades superexpostas na mídia, ganham uma certa
aura, a qual confere um valor indevido a essas figuras e disfarça o que
elas de fato são: bandidos perigosos.
O caso de "Luz Vermelha", além
da tendência à folclorização, lança
uma cortina de fumaça sobre temas
realmente importantes -a ineficácia
do sistema prisional e a aparente falta de rigor com que foram realizados
os laudos técnicos que atestam a sanidade mental do ex-presidiário.
"Luz Vermelha" é um exemplo típico da inoperância do sistema de recuperação de criminosos.
Recluso durante 30 anos, após ser
condenado por 88 crimes -estupros, assassinatos e assaltos-, o
bandido foi considerado, só na véspera de sua libertação, clinicamente
inepto para o convívio social.
Transferido para a Casa de Custódia
de Taubaté, foi "reavaliado" em
apenas quatro dias e obteve então a
sua liberdade. Declarações recentes
do ex-presidiário dão sinais de que
ele parece não ter sido reeducado para a vida em sociedade.
Seu triste caso deveria servir como
sinal de alerta para que o país deixe
de produzir falsos heróis e abandone
a estúpida folclorização do crime. Já
é mais do que hora de encarar a falência do sistema prisional brasileiro
com mais seriedade.
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