São Paulo, quinta, 28 de agosto de 1997.



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LUZ VERMELHA

A maneira sensacionalista com que a mídia, de modo geral, vem noticiando o processo de soltura do detento João Acácio Pereira, o "Bandido da Luz Vermelha", contribui para a folclorização do personagem, que já se transformou num objeto de consumo entre exótico e simpático.
Algo semelhante ocorreu em relação a Leonardo Pareja -confundido com um personagem ficcional, tornou-se para muitos uma figura positivamente carismática.
O brasileiro tem uma relação ambígua com um certo tipo de bandidagem. Na década de 70, houve o caso de Lúcio Flávio. Assim como "Luz Vermelha", o assaltante virou tema de filme. Nos anos 80, foram mitificados personagens como Hosmany Ramos e traficantes como "Escadinha". Ao se tornarem, de modo pouco crítico, personalidades superexpostas na mídia, ganham uma certa aura, a qual confere um valor indevido a essas figuras e disfarça o que elas de fato são: bandidos perigosos.
O caso de "Luz Vermelha", além da tendência à folclorização, lança uma cortina de fumaça sobre temas realmente importantes -a ineficácia do sistema prisional e a aparente falta de rigor com que foram realizados os laudos técnicos que atestam a sanidade mental do ex-presidiário. "Luz Vermelha" é um exemplo típico da inoperância do sistema de recuperação de criminosos.
Recluso durante 30 anos, após ser condenado por 88 crimes -estupros, assassinatos e assaltos-, o bandido foi considerado, só na véspera de sua libertação, clinicamente inepto para o convívio social.
Transferido para a Casa de Custódia de Taubaté, foi "reavaliado" em apenas quatro dias e obteve então a sua liberdade. Declarações recentes do ex-presidiário dão sinais de que ele parece não ter sido reeducado para a vida em sociedade.
Seu triste caso deveria servir como sinal de alerta para que o país deixe de produzir falsos heróis e abandone a estúpida folclorização do crime. Já é mais do que hora de encarar a falência do sistema prisional brasileiro com mais seriedade.



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