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O neo-autoritarismo (2)
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Lado a lado do autoritarismo econômico, mais ou menos
como causa e efeito do neoliberalismo,
temos o autoritarismo político. No início, foi exercido com alguma sutileza,
pelo menos até o momento em que o
governo empenhou-se fisiologicamente na emenda da reeleição do atual
presidente da República.
Pouco a pouco, a sutileza foi substituída pela grossura. Depois de extorquir por condenáveis processos o direito de continuar no poder, o grupo
liderado por FHC procura garantir
uma eleição tranquila, apenas para
continuar exibindo a face conveniente
do regime democrático -tal como as
ditaduras formais sempre fizeram, obtendo do Congresso leis que referendam o autoritarismo. Foi assim na
Alemanha nazista, na Itália fascista e
na União Soviética stalinista.
As regras para a próxima eleição estão sendo alinhadas de tal forma que
será impossível uma vitória da oposição, já combalida por divisões de fundo e forma. Diminuindo a duração da
campanha, podendo o presidente usar
todos os escaninhos do governo para
se promover, desde o avião presidencial ao rotineiro ofício de tapar um
buraco na estrada ou abrir uma creche, só ficará faltando uma lei (ou medida provisória) determinando que,
em face da situação, o mandato presidencial de FHC será prorrogado
até...até...
Bem, a data fica em aberto. Antecedentes históricos bolaram uma forma
(que foi usada por Mussolini) que é
uma obra-prima de concisão: "...Até
que seja necessário".
Quem determina o "necessário" é o
próprio interessado. Não tenho certeza, mas acho que Salazar (ou Franco)
usou uma fórmula diferente que dava
no mesmo: "Até que os objetivos nacionais sejam alcançados".
Não teremos a ditadura formal, mas
de fato. Sim, haverá a mídia, onde alguns poucos dinossauros saudosos do
Muro de Berlim continuarão chiando.
Nada poderão contra a lucidez cívica
dos neoconvertidos.
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