São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002

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NADA EDUCATIVO

A passagem de Antonio Carlos Magalhães pelo Ministério das Comunicações, no governo Sarney, foi marcada pelo uso político das concessões de rádio e televisão. O presidente Fernando Henrique Cardoso, no seu primeiro ano de mandato, prometeu dar cabo dessas práticas clientelistas. Sentindo-se atingido pelas críticas, ACM, em 1995, prognosticou: "Ele vai fazer exatamente o que eu fiz. Vai escolher politicamente". Passados sete anos e oito meses de governo, o vaticínio se mostrou em parte correto.
A repórter Elvira Lobato, desta Folha, descobriu que pelo menos 13 deputados federais -sem contar deputados estaduais, ex-deputados, prefeitos e candidatos- receberam concessões de rádios e TVs educativas de FHC. Isso a despeito de o presidente ter sido taxativo sobre o assunto já no seu primeiro pronunciamento televisivo depois da posse: "O governo não estabelecerá nenhum balcão nem canal algum para a prática do "toma lá, dá cá'".
O que FHC disse valeu, ao que parece, apenas para as rádios e TVs comerciais (com fins lucrativos). Nesse caso, as concessões passaram a ser vendidas por meio de licitação pública. Mas o flanco para negociações de balcão permaneceu aberto para a mídia de caráter "educativo".
As concessões "políticas" parecem ter se concentrado no estágio de Pimenta da Veiga na pasta das Comunicações (janeiro de 99 a abril de 2002). Nesse período, houve cerca de cem concessões educativas, sendo pelo menos 23 para políticos. Destas últimas, segundo apurou a Folha, a maioria foi para Minas Gerais, o Estado do ex-ministro.
O uso político do poder de autorizar o funcionamento de rádios e TVs é pernicioso, pois, entre outros males, desvirtua os objetivos, no caso educativos, da concessão e interfere indevidamente no jogo político local, beneficiando um grupo com o poder de mídia em detrimento dos demais. FHC conhecia o diagnóstico, mas acabou por render-se, ainda que parcialmente, à lógica cruamente descrita e praticada por ACM.


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