São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002

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ENTRE O IDEAL E O REAL

O ideal seria que os candidatos a ocupar a Presidência da República não se insultassem nem recorressem a expedientes duvidosos. Seria também excelente se os postulantes só fizessem promessas que pudessem cumprir e expusessem sempre suas reais intenções, sem escamotear pensamentos e planos. Esse mundo ideal, porém, não existe. Ao contrário até, no campo da política eleitoral -infelizmente- muitas vezes parecer é bem mais importante do que ser.
A Justiça Eleitoral, ao tentar manter o horário eleitoral gratuito em nível minimamente elevado por meio de decisões judiciais, pode estar em busca do impossível. E é de se indagar se conviria ao eleitor uma programação que fosse totalmente correta e polida, até insípida.
É claro que devem existir limites para os embates entre candidatos. É evidente também que cabe à Justiça fazer respeitá-los. Mas definir o que é aceitável e o que não é constitui tarefa das mais subjetivas e difíceis.
Suponha-se que o candidato A afirme que seu adversário, B, assaltou um banco em determinados local e data. Se A diz a verdade, prestou inestimável serviço ao eleitor, ao informá-lo de coisas relevantes a respeito do passado de B. Se, por outro lado, A não puder provar o que diz e for rapidamente repreendido pela Justiça, o cidadão ficará conhecendo melhor o caráter de A. Em qualquer hipótese, o choque dialético entre as posições de A e B, com a intermediação da Justiça Eleitoral, terá gerado informação útil para o eleitor.
É claro que na maioria das situações do "mundo real" as coisas não são tão claras como no exemplo do assalto ao banco. Ainda assim, é normal e até saudável que ocorra algum tipo de atrito entre os candidatos. A melhor forma de manter o debate político é deixando que cada postulante diga o que bem entender e que seus concorrentes possam submetê-lo ao contraditório.


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