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CLÓVIS ROSSI
A deserção final
SÃO PAULO - Para estabelecer que
Luiz Inácio Lula da Silva não é nem
nunca foi de esquerda não é preciso
recorrer à sabedoria do notável sociólogo Chico de Oliveira. Até eu já tinha percebido.
Daí a tomar o rótulo de "esquerdista" como algo ofensivo, como se quisesse dele se livrar, vai uma imensa
distância, que Lula percorreu alegremente, ao responder em Caracas a
uma pergunta de Eliane Cantanhêde, desta Folha.
É triste. Não porque a esquerda seja
melhor que a direita. Mas porque, se
é verdade que Lula jamais foi de esquerda, toda a sua retórica, todos os
seus aliados até 2002, quase todas as
suas propostas eram de esquerda.
Triste também porque, no Brasil e
na América Latina, desgraçadamente, dá vergonha ser de direita, não de
esquerda.
Para descrevê-la com competência,
recorro ao economista Paulo Guedes,
que se define como liberal-democrata
e que, portanto, na distribuição convencional de rótulos, seria de direita.
Escreve ele para a mais recente edição da revista "Insight Inteligência":
"[Na América Latina], ela [a direita] é autoritária, corrupta, ditatorial,
oligárquica, patrimonialista, sem-vergonha, assaltante oficial de Estado. Nunca teve nenhuma ideologia
liberal-democrata. Patrocinava golpes militares, produzia avanços de
empresas estatais de intervencionismo generalizado (...)".
Ninguém pense que o resto do texto
é um elogio, ao menos por contraposição, à esquerda. Ao contrário, leva
pancadas uma atrás da outra.
Lula poderia perfeitamente defender a esquerda, nem que fosse por
oposição a tudo isso que a direita representou e representa no Brasil. Ou
por falta de culpa nos desmandos
praticados, porque a esquerda de verdade jamais teve o poder. Preferiu
inscrever-se na longa lista dos adoradores do "esqueçam o que escrevi" (e,
de quebra, esqueçam também o que
disse, o que fiz e os amigos que tive).
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