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CLÓVIS ROSSI
Cassino, cães e homens
SÃO PAULO - Na tabela que esta
Folha publicou sábado sobre "rating" de países segundo as agências
de avaliação de risco, o Brasil aparece atrás de El Salvador.
Não vou nem insistir no fato de
que tais agências fracassaram redondamente na avaliação do risco
na crise imobiliária. O fato de a
União Européia ter aberto investigação a respeito basta para demonstrar que nem todo o mundo se
deixa fascinar pelas miçangas dos
novos colonizadores.
O interessante é analisar El Salvador como risco. Ontem, o jornal
espanhol "El País" mostrou que a
taxa de homicídios, em 2006, foi de
68 por 100 mil habitantes, com o
que "se aproxima perigosamente
dos índices registrados durante
conflitos armados".
Para comparações: acima de dez
homicídios por 100 mil habitantes
já é "epidemia", pela contabilidade
da Organização Mundial da Saúde.
O Brasil está em 27 por 100 mil habitantes -acima, portanto, do nível
epidêmico, mas imensamente abaixo de El Salvador.
No entanto, para as agências de
"rating", o risco é maior.
Conheço El Salvador da guerra.
Um dia de 1982, véspera da eleição
presidencial, fui a Usulután, que a
guerrilha ameaçava tomar justamente para embaçar a votação.
Ficamos perto do fogo cruzado
na entrada da cidadezinha, dentro
dela (helicópteros artilhados do
Exército alvejavam tudo o que se
movesse no solo) e na estrada, na
volta para San Salvador.
Neste último incidente, nos salvou só a extrema habilidade do motorista que havíamos contratado, o
Rolando, veterano de missões de
guerra com a mídia. Já na entrada
de San Salvador, Rolando atropelou
um cachorro. O baque foi o enésimo
susto do dia. Rolando filosofou:
"Aqui é mais comum matarem homens que cachorros".
Parece que as agendas de "rating"
usam a lógica de Rolando para medir riscos.
crossi@uol.com.br
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