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A confusão do pré-sal
Capitalização da Petrobras para explorar novas reservas segue roteiro problemático que pode ser prejudicial aos acionistas e ao próprio país
No processo de capitalização da
Petrobras, o governo politiza a definição de preços de mercado e do
regime de propriedade de uma
empresa que, embora sob controle estatal, tem suas ações negociadas na Bolsa. A União ao que tudo
indica quer aproveitar a ocasião
para aumentar sua presença na
Petrobras. Para tanto, pretende
trocar barris de petróleo das reservas do pré-sal por novas ações.
Há incertezas sobre o tamanho
das reservas do pré-sal, mas é
plausível que cheguem a 100 bilhões de barris. O desafio de explorar estes recursos é colossal e
demandará US$ 224 bilhões (cerca
de R$ 390 bilhões) até 2014, segundo o plano da Petrobras. Como
a empresa não tem recursos para
tanto, será preciso promover uma
capitalização, que já havia sido
decidida desde o ano passado.
O usual num caso como esse seria fazer uma chamada de capital
em dinheiro, a ser subscrita pelos
acionistas na proporção de sua
participação, sob pena de diluição
-ou seja, de perda de posição em
relação ao conjunto.
Os problemas começam pelo fato de a União, que possui 32% do
capital, não dispor de recursos para subscrever sua parte.
Para contornar essa dificuldade
o governo decidiu utilizar a chamada cessão onerosa, pela qual a
União transferiria à empresa o
equivalente 5 bilhões de barris na
forma de títulos públicos, que seriam resgatados ao longo do tempo em troca da produção. É um caminho cercado de riscos jurídicos
e conflitos de interesse.
A Petrobras vinha indicando
um preço de US$ 5 por barril, a ser
confirmado por uma consultoria
externa -o que permitiria a União
subscrever até US$ 25 bilhões. Por
extensão, os acionistas minoritários teriam que entrar com até US$
50 bilhões em dinheiro para manter sua participação, o que não é
nada trivial. Para que se tenha
uma base de comparação, a maior
operação de abertura de capital
do mundo, feita pelo Agricultural
Bank of China em julho último, levantou US$ 22 bilhões.
Ocorre que a Agência Nacional
do Petróleo (ANP) divulgou estudo realizado por uma consultoria
com preço diferente, entre US$ 10
e US$ 12 por barril. Neste caso, os 5
bilhões de barris da União valeriam de US$ 50 bilhões a US$ 60
bilhões, o que demandaria correspondente aumento na subscrição
privada para valores ainda mais
proibitivos. O risco de fracasso da
operação neste caso seria maior.
A divergência de preços não é
estranha -as hipóteses técnicas
variam em cada estudo. O que ela
mostra de mais importante são os
diferentes interesses envolvidos.
Do lado da Petrobras busca-se obter o dinheiro para realizar os investimentos. Logo, um preço alto
demais que espante o setor privado não deve ser bem visto.
Do lado do governo, o objetivo,
naturalmente, é maximizar o valor para a União, ampliando sua
presença na empresa.
No geral, a condução do processo tem sido confusa, e a proximidade da eleição só fez aumentar as
dúvidas sobre o que realmente será feito. Enquanto o governo não
se decide, a empresa, premida por
falta de caixa, perde valor e vai levantando dinheiro onde pode -só
em junho foram mais R$ 4,2 bilhões obtidos de bancos públicos.
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