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Ciro e Lampedusa
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Entrevistado do programa "Roda Viva" (TV Cultura), na segunda-feira passada; capa da revista
"Veja" desta semana; personagem da
entrevista de segunda desta Folha ontem -Ciro Gomes, decididamente, é
o personagem político do momento.
De certa forma, é natural que seja
assim. Com o governo Fernando Henrique Cardoso prematuramente envelhecido, há uma inevitável compulsão
do público, pelo menos do público politizado, em olhar para a frente, na
busca de tentar divisar quem pode ser
o futuro rei.
Que uma fatia do público se fixe em
Ciro é igualmente natural. Ele acaba
sendo o estuário no qual deságuam os
descontentes com FHC e os eternos refratários ao PT e/ou a seu líder Luiz
Inácio Lula da Silva.
O difícil é adivinhar se a onda Ciro
será ou não consistente o suficiente
para aguentar no sereno os três anos
que faltam até a votação. Nos dois
pleitos anteriores à introdução da reeleição, os vencedores inexistiam no
noticiário quando faltava tanto tempo. Tanto Fernando Collor como Fernando Henrique construíram suas vitórias em mais ou menos seis meses.
Não me pergunte, pois, se acredito
na viabilidade eleitoral de Ciro Gomes. Mas sou capaz de apostar, desde
já, que, se vitorioso na votação, Ciro
será mais um tremendo fracasso como
presidente se se dispuser a ser apenas
a nova carta do establishment.
Corre o risco, já visível no tratamento de certos meios de comunicação e
de certos empresários, de repetir o
"gattopardismo" tradicional da política brasileira. Ou seja, de dar a impressão que tudo muda para que tudo
fique igual, como no livro famoso do
italiano Lampedusa.
O país pede uma ruptura com os padrões políticos tradicionais. Ou Ciro é
capaz de promovê-la ou, como os demais, terminará nos braços dos PFL
da vida. O que tem sido o beijo da
morte para todos os presidentes.
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