|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Calaboca
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Como dizem os sábios, ou
espertos, ou prevenidos, ou sei lá o quê,
"o pior vem sempre depois".
É isso que apavora no caso da cassação de Hildebrando Pascoal e da prisão dele e da sua turma lá do Acre.
Até aqui, o script vai bem. Ele foi
acusado, cassado e está vendo o sol
nascer quadrado em Brasília, junto
com 26 outros amiguinhos e parentes.
E depois?
Está em andamento uma revolução
no Acre, doída, devagar, mas bem-sucedida. Ela começou com a luta pela
defesa do meio ambiente e da dignidade das pessoas, resultou no assassinato
de seus líderes e literalmente ganhou
mundo com o de Chico Mendes, em 22
de dezembro de 1988.
Desde então, muita coisa aconteceu
de positiva no Acre, inclusive uma
fantástica renovação política. Mas todo o cuidado ainda é pouco. O Estado
continua violento, Hildebrando está
muito vivo, dá um arrepio pensar no
que ele pode fazer para se vingar de
adversários e testemunhas.
Convém centrar o foco no procurador da República Luiz Francisco Fernandes de Souza, 37, que denunciou a
quadrilha, e no ex-bispo de Rio Branco d. Moacir Grechi, que depôs contra
ela na CPI do Narcotráfico. Eles são
dois grandes vitoriosos no desfecho.
Podem, portanto, ser suas maiores vítimas. Como eles, há dezenas.
Pelos relatos, há um clima de euforia
no Acre, entre políticos incorruptíveis,
procuradores honrados, religiosos que
vão à luta, ONGs estrangeiras e jornalistas independentes. A "fauna", enfim, que foi salva por Chico Mendes e
agora trata de salvar o Estado.
A euforia, entretanto, é mesclada
com o medo. Medo da impunidade final, de retaliações, de uma vingança
sem fim de quem não costuma ter limites para executar sua vingança.
O Acre, como vem sendo dito e repetido aqui, é um exemplo. Mas é também uma responsabilidade para o resto do país. Todo o cuidado é (mesmo)
pouco. E esse cuidado transcende em
muito as fronteiras do jovem Estado.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Ciro e Lampedusa Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A douta solução Índice
|