São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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CONTRA O REAL

Depois do acordo com o FMI, do périplo internacional protagonizado por Pedro Malan e Armínio Fraga, da geração de expressivos saldos comerciais que em tese garantem maior oferta de dólares ao país e depois também de declarações dos candidatos de oposição em linha com as expectativas do mercado, continua a especulação contra o real.
A situação se aproxima de uma clássica fuga de capitais. Resta saber se a política econômica, diante dessa realidade, mantém racionalidade.
A abordagem convencional prescreve o "laissez-faire". Argumentam os economistas ortodoxos que na crise o melhor a fazer é atender ao sentimento do mercado. A manutenção das "regras do jogo" seria o antídoto para a desconfiança.
Essa tem sido a lógica do Banco Central ao longo dos anos Fernando Henrique Cardoso e, agora, o mesmo argumento frequenta os porta-vozes do PT. Tudo se resume a reafirmar o "respeito a contratos".
É uma linha de ação cujo sucesso depende da existência do que se conhece como "overshooting", ou seja, de os mercados mais cedo ou mais tarde perceberem o exagero, recolocando o dólar em patamar razoável.
Mas, se o "overshooting" não se materializar ou se a reversão de expectativas demorar demais, a política econômica será colocada em questão, a começar do seu compromisso com o respeito a contratos.
O fato é que, neste momento, enquanto o BC é batido pela especulação, empresas endividadas no exterior já renegociam dívidas. E, como é evidente em manifestação recente do FMI, o que ainda preocupa muito é o peso da dívida pública.
Ora, se a especulação não ceder a tempo, a asfixia das finanças públicas e da atividade econômica produzirá um estrago sem precedentes.
O Brasil ainda parece distante desse limiar. Mas a voracidade da erosão da credibilidade do real assusta mais a cada dia que passa.
Nunca, num passado recente, a política econômica esteve tão a reboque dos acontecimentos e do péssimo humor dos mercados financeiros.



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