São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Depois das eleições

Daqui a poucos dias, milhões de brasileiros irão cumprir o direito e o dever de votar. Para quem viveu, no passado, tempos de restrições democráticas, não deixa de nos alegrar ver, em todo o território nacional, nosso povo escolher com liberdade os representantes do Poder Executivo e do Poder Legislativo.
Há quase um ano (30/11/2001), a CNBB divulgou um subsídio para as comunidades católicas com o título "Eleições 2002: Propostas para Reflexão" (doc. 67). O texto insistia na participação efetiva de todos no processo de aperfeiçoamento democrático da sociedade por meio do exercício do voto consciente e responsável.
O documento da CNBB inspirou nas comunidades ampla reflexão e discernimento sobre a atuação dos católicos na vida política, apontando desafios e sinais de esperança e recordando o constante ensino social da Igreja na intenção de formar as consciências para o exercício da cidadania e de contribuir para a promoção da vida e do bem comum.
O texto da CNBB apresenta como prioritárias três metas para a elaboração das políticas sociais a serem assumidas especialmente pelos futuros eleitos:
a) a primeira meta é a erradicação da fome, incluindo a justa distribuição de renda e a efetivação de uma política agrícola vinculada à reforma agrária, com incentivo à produção familiar e com projetos de geração de renda;
b) o pleno respeito aos direitos humanos, direcionando a política econômica para os investimentos sociais e priorizando os postos de trabalho e a expansão do mercado interno para atender às necessidades básicas do povo;
c) a urgência de zelar pela ecologia e pelo desenvolvimento sustentável, sem danificar a natureza. Isso requer mudanças na mentalidade consumista , que prima pelo desperdício e pelo uso supérfluo de recursos para o bem de minorias.
As campanhas políticas, intensificadas nas últimas semanas, manifestaram muitos pontos positivos na apresentação de programas e na discussão de prioridades. Houve semelhança e até coincidência nas respostas dos candidatos. Deixando de lado algumas fragilidades no fervor dos debates, temos de reconhecer que várias propostas são promissoras e abrem perspectivas de solução para os desafios e para a supressão do atual modelo, que vem gerando tanta exclusão social.
Mais alguns dias e os candidatos estarão eleitos. É preciso olhar para a frente e encontrar caminhos de sabedoria que garantam uma política de intensa cooperação entre partidos. O bem do Brasil requer essa capacidade de integração de forças vivas, convocando a todos para dar a sua contribuição. Prevê-se que o Congresso Nacional e o governo dos Estados venham a ter de contar com atuação forte dos diversos partidos. Isso vai requerer, depois das eleições, um novo empenho patriótico de cooperação e de articulação interpartidária em vista de metas comuns. Lembramos a importância do uso racional da terra e da água, o atendimento urgente à alimentação e à saúde, a multiplicação de empregos, a pesquisa científica, a soberania nacional, a garantia dos direitos trabalhistas.
O aperfeiçoamento do regime democrático passa não somente pela escolha livre dos representantes mas -com grandeza- pela convocação de todos os cidadãos na promoção do bem comum.
Com a graça de Deus e o patriotismo que supera partidarismos temos o direito de esperar dias melhores para o Brasil.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



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