É natural que as campanhas para prefeito se tornem mais polarizadas nestes dias que antecedem o pleito do próximo domingo. Por um lado, isso é até positivo, pois o acirramento contribui para dar vida ao processo democrático.
Lamentavelmente, porém, tem-se assistido em São Paulo e no Rio de Janeiro a um espetáculo de anti-republicanismo que só serve para desgastar princípios fundamentais para o bom funcionamento das instituições democráticas. O mais castigado deles tem sido o da impessoalidade do poder público.
O primeiro a aviltar essa noção foi o governador Geraldo Alckmin, que, algumas semanas atrás, entrou na campanha de seu correligionário, José Serra, insinuando que a cidade de São Paulo se beneficiaria de ter a dupla peessedebista à frente do Bandeirantes e do Palácio das Indústrias simultaneamente. A resposta do PT não tardou. O senador Aloizio Mercadante veio a público e sugeriu que era melhor para a cidade um entendimento não com o governo estadual, mas com o federal.
Com o acirramento dos últimos dias, foi-se toda sombra de decoro republicano: o PT acusou explicitamente o governo Fernando Henrique de ter segurado verbas para São Paulo, o que explicaria as chamadas "obras de última hora" da prefeita Marta Suplicy. O PSDB nega tudo.
No Rio de Janeiro, esse processo foi ainda mais violento: a governadora Rosinha Matheus e seu marido e secretário da Segurança Pública, Anthony Garotinho, ameaçaram retaliar, deixando de repassar verbas aos prefeitos que se elegerem por correntes políticas que se opõem ao casal.
Ninguém é ingênuo a ponto de acreditar que critérios políticos não pesem na hora de decidir por transferências voluntárias de verbas entre diferentes esferas do Poder Executivo, mas é inadmissível que representantes dos mais altos escalões de governos municipais, estaduais e federal transformem o que deveria ser um vício inconfessável em elemento de chantagem aberta. O Brasil, a começar por seus governantes, ainda tem muito a aprender no que diz respeito à atitude republicana.


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