São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Um vazio (ou dois)

SÃO PAULO - Se as urnas de domingo confirmarem as pesquisas, é razoável supor que Paulo Salim Maluf terá disputado a sua última eleição, na medida em que encolhe a cada votação, a ponto de quase quase se transformar em "nanico".
Abrir-se-á, portanto, um vazio no panorama eleitoral paulistano e paulista: o malufismo é o mais recente exemplar de uma corrente política que vem, pelo menos, de meio século e foi até dominante em São Paulo (capital e Estado). Adhemar de Barros e Jânio Quadros, antes de Maluf, representaram essa linhagem, que, em menor medida, tem em Orestes Quércia outra expressão (ainda que Quércia não seja um conservador em matéria de costumes, característica desse tipo de populismo).
É possível que a aposentadoria de Maluf provoque, pura e simplesmente, a desaparição de candidatos com o seu perfil, deixando o terreno livre para uma disputa entre tucanos e petistas, como já ocorreu na mais recente eleição estadual, com o segundo turno entre Geraldo Alckmin e José Genoino. Mas é pouco provável.
Seria capaz de apostar que há mais malufistas do que os pouco mais de 10% que se dispõem a votar agora em Maluf. Migraram para outras candidaturas provavelmente por fadiga do material e pela conseqüente falta de perspectivas eleitorais do candidato.
Se, durante meio século, pouco mais ou menos, houve alguém parecido com Maluf nas cédulas eleitorais, por que não continuaria a haver assim que Maluf finalmente deixar espaço para novas lideranças? Talvez não haja tempo para surgir alguém assim para 2006, mas que há um vazio, é inegável. E, em política, já é até lugar-comum dizer que o vazio é sempre preenchido.
Mais adiante, aliás, haverá um segundo vazio, este à esquerda, à medida que for caindo a ficha e o pessoal descobrir que o PT não é nem remotamente o que foi até eleger Lula. Mas essa é uma história para mais longo prazo.


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