São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Cabo eleitoral

RIO DE JANEIRO - O erro deve ser meu, mas, sinceramente, não entendo a legislação eleitoral em vigor. Começa pela promoção da mentira e da hipocrisia, obrigando pessoas respeitáveis -ou que deveriam ser respeitáveis- a mentir descaradamente. E termina em episódios ridículos, como esse que envolveu o presidente da República, transformado em cabo eleitoral de uma candidata a prefeita.
Quem duvida que o presidente Lula, fundador do PT, amigo histórico de Marta Suplicy, está e estará fazendo tudo para reelegê-la?
Bem, dirão os puristas, ele pode fazer, mas não pode dizer, como disse recentemente. E pior: foi obrigado a pedir desculpas à Justiça Eleitoral por ter elogiado a amiga e correligionária, conseguindo assim errar duas vezes: quando fez e desfez sua tentativa de campanha eleitoral, ele que é o supremo magistrado da nação e tem como dever a isenção nas disputas partidárias, limitando-se a votar como simples cidadão na devida hora.
É um faz-de-conta repugnante na vida pública. Estamos carecas de saber que o governo e o PT estão fazendo tudo o que podem e não podem para obter uma vitória esmagadora na eleição de outubro. Além do fisiologismo de cargos e verbas, está rolando dinheiro vivo em forma de mesada a políticos com ou sem representação no Congresso.
Bem ou mal, sempre foi assim, com todos os partidos e governos, em escala menor ou maior. Contra isso, a legislação eleitoral nada pode. Mas pode contra o óbvio, ou seja, contra o fato de um militante do PT, seu fundador e mentor, declarar que a candidata de seu partido é a melhor.
Dou de barato que a intenção da lei seja a de impedir que um presidente da República faça campanha a favor de quem quer que seja. Mas, na realidade, independentemente do que ele pense ou diga, Lula sempre foi e continuará sendo, falando ou calado, um eficiente cabo eleitoral.


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