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CARLOS HEITOR CONY
Cabo eleitoral
RIO DE JANEIRO - O erro deve ser meu, mas, sinceramente, não entendo a legislação eleitoral em vigor. Começa pela promoção da mentira e da
hipocrisia, obrigando pessoas respeitáveis -ou que deveriam ser respeitáveis- a mentir descaradamente. E
termina em episódios ridículos, como
esse que envolveu o presidente da República, transformado em cabo eleitoral de uma candidata a prefeita.
Quem duvida que o presidente Lula, fundador do PT, amigo histórico
de Marta Suplicy, está e estará fazendo tudo para reelegê-la?
Bem, dirão os puristas, ele pode fazer, mas não pode dizer, como disse
recentemente. E pior: foi obrigado a
pedir desculpas à Justiça Eleitoral por
ter elogiado a amiga e correligionária, conseguindo assim errar duas vezes: quando fez e desfez sua tentativa
de campanha eleitoral, ele que é o supremo magistrado da nação e tem
como dever a isenção nas disputas
partidárias, limitando-se a votar como simples cidadão na devida hora.
É um faz-de-conta repugnante na
vida pública. Estamos carecas de saber que o governo e o PT estão fazendo tudo o que podem e não podem
para obter uma vitória esmagadora
na eleição de outubro. Além do fisiologismo de cargos e verbas, está rolando dinheiro vivo em forma de mesada a políticos com ou sem representação no Congresso.
Bem ou mal, sempre foi assim, com
todos os partidos e governos, em escala menor ou maior. Contra isso, a legislação eleitoral nada pode. Mas pode contra o óbvio, ou seja, contra o
fato de um militante do PT, seu fundador e mentor, declarar que a candidata de seu partido é a melhor.
Dou de barato que a intenção da lei
seja a de impedir que um presidente
da República faça campanha a favor
de quem quer que seja. Mas, na realidade, independentemente do que ele
pense ou diga, Lula sempre foi e continuará sendo, falando ou calado,
um eficiente cabo eleitoral.
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