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CLÓVIS ROSSI
De mansidão e taxistas
MADRI - O mundo mais uma vez
se curva diante do Brasil. Pena que
seja em aspectos profundamente
lamentáveis.
Começo pela constatação de
Thomas Friedman ("The New York
Times"), talvez o colunista mais badalado do planeta, depois de incursão por campi de universidades nos
Estados Unidos.
Voltou com duas percepções.
A boa: os jovens norte-americanos continuam com o velho impulso de aventurar-se pelo mundo, seja
para estudar, seja para "construir
casas para os pobres em El Salvador", seja para "serem voluntários
em clínicas para doentes de Aids,
em números recordes".
O lado ruim: como no Brasil, esse
pessoal não se mexe para protestar
contra o que quer que seja.
O colunista do "NYT" lembra que
Martin Luther King, entre outros,
"não mudou o mundo pedindo que
as pessoas se juntassem a ele "baixando" [pelo computador] a sua plataforma". Ao contrário, escreve
Friedman, "ativismo só pode ser à
maneira antiga -por meio de jovens eleitores falando a verdade para o poder, face a face, em grande
número, nos campi ou no Washington Mall [a grande área no coração
da capital norte-americana]. Política virtual é só isso: virtual".
Na Europa ou, pelo menos, na Espanha, o colunista Vicente Verdú
("El País"), que, além de jornalista,
é escritor e formado em ciências sociais, diz o seguinte:
"O pensamento complexo reduziu tanto sua presença nos debates
que os conceitos ajustaram sua dimensão ao tamanho exato do discurso de taxista" (sem qualquer
preconceito de minha parte contra
o taxista, com os quais muitas vezes
é até divertido conversar, em qualquer lugar do mundo).
Como tenho reclamado, neste espaço, da bovina mansidão do brasileiro e da indigência do debate público, fico mais alarmado. Parece
que globalizaram também a mansidão e a mediocridade.
crossi@uol.com.br
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