São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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AVANÇOS E RISCOS

As dificuldades que o governo e as empresas brasileiras enfrentam para obter crédito no exterior continuam muito grandes. Em outubro foram renovados apenas 7% dos títulos de dívida externa de empresas que venceram no mês. Nesse quadro de prolongado e severo fechamento do crédito externo, é bastante positiva a notícia de que o déficit em conta corrente voltou a cair.
Em outubro esse déficit se limitou a US$ 34 milhões, contra mais de US$ 2,4 bilhões em outubro do ano passado. Nos 12 meses findos em outubro, o déficit foi de US$ 10,7 bilhões, o que representou queda de 58% sobre os 12 meses anteriores e correspondeu a 2,3% do PIB -a proporção mais baixa desde setembro de 1996.
A necessidade do país de atrair dólares para fechar suas contas externas continua, portanto, a diminuir com velocidade surpreendente. Já se pode vislumbrar que as contas externas do país transitam para uma posição mais sustentável.
Mas há problemas. O principal é que a melhora das contas externas tem sido impulsionada sobretudo pela alta drástica do dólar e pelo baixo crescimento da economia.
O ajuste das contas externas não pode se fiar nesses fatores por muito tempo. A alta do dólar já começa a cobrar um preço alto em termos de pressão sobre a inflação -tanto que o próprio BC já admite que vai se tornando cada vez mais difícil cumprir a meta de limitar a inflação em 2003 a no máximo 6,5%.
A pressão inflacionária, por sua vez, prejudica as perspectiva de crescimento -seja diretamente, porque corrói a renda dos consumidores, seja indiretamente, porque a política econômica, para coibir a alta de preços, acaba pressionada a tomar atitudes (como subir os juros) que sacrificam a atividade econômica.
O caminho atual de ajuste das contas externas, portanto, embute o risco de uma indesejável combinação de inflação com estagnação. Para fugir da estagflação, será preciso criar condições para que a melhora das contas externas prossiga mesmo depois que a economia volte a crescer e que o dólar, hoje excepcionalmente caro, volte a um nível "normal".


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