Há quase dois anos à frente da Prefeitura de São Paulo, a administração de Marta Suplicy (PT) ainda não conseguiu encaminhar uma solução propriamente dita para o transporte público da cidade. Motoristas e cobradores de uma empresa de ônibus, talvez com a benevolência de empresários do setor, impuseram transtornos adicionais aos usuários desse serviço e ao trânsito da capital. Toda a agitação deságua num objetivo: obter da prefeitura um novo aumento de passagem.
Como fez o governo federal com os preços dos combustíveis, a prefeitura paulistana não permitiu que um aumento da tarifa de ônibus, hoje de R$ 1,40, ocorresse antes das eleições de outubro. Isso mesmo levando em conta que alguns dos principais determinantes do aumento de custo das empresas de ônibus já vigoram desde meados do ano.
As empresas de ônibus pleiteiam tarifa 35% mais alta, na casa do R$ 1,90. Projeções aproximadas feitas pela Folha a partir de planilhas da Fipe (fundação ligada à USP) indicam que o valor necessário para readequar os custos das empresas, afora eventuais subsídios, está na faixa entre R$ 1,46 e R$ 1,52. Num momento em que reajustes de tarifas alimentam uma escalada inflacionária, exige-se que o poder público contenha o ímpeto de empresários sem, obviamente, inviabilizar o seu negócio.
O problema do transporte público paulistano vai além da discussão tarifária. Os ônibus, por exemplo, vêm historicamente perdendo passageiros e podem perder mais com um novo aumento da passagem.
Ônibus desconfortáveis, concorrência predatória de lotações, falta de otimização entre rotas e tipos de veículo evidenciam que o transporte público na maior cidade sul-americana está ainda muito longe de poder ser qualificado como um sistema. Sofrem mais os mais pobres, que dependem diretamente desse serviço, que não podem adquirir um automóvel e participar com mais conforto dos engarrafamentos paulistanos.


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