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MARTA SALOMON
Eterna transição
BRASÍLIA - Algumas cenas da passa gem de poder de FHC para Lula primam pela originalidade: do prosaico encontro de José Dirceu com Pedro
Parente na noite da última quinta, com direito a cachaça e chorinho, até
a ausência do PMDB, do PFL e do PSDB no núcleo do poder pela primeira vez em quase 18 anos.
Outras cenas têm jeito de déjà vu.
Só faltou o presidente eleito repetir
ontem à platéia de ministros: "É proibido gastar" -o mote do discurso
deixado escrito por Tancredo Neves e
lido por José Sarney na primeira reunião ministerial da Nova República,
nos idos de 85.
Fernando Henrique Cardoso recuperou-o na primeira reunião ministerial depois da reeleição. "Infelizmente, nós continuamos a repetir essa frase", discursou em janeiro de 99.
O Brasil escapara da bancarrota
com a ajuda do FMI e já arrecadava
bem mais do que no início da era tucana, mas deveria gastar ainda menos para tentar conter sua dívida explosiva. O crescimento econômico e o
bem-estar da sociedade continuavam objetivos máximos -para assim que fosse possível.
O mote de Tancredo ficou subentendido na primeira reunião ministerial de Lula. O governo petista começa na quarta que vem com a mesma carga de impostos alta de FHC e promete o aperto necessário nos gastos públicos para, como diz Palocci,
contornar expectativas negativas.
Se o cenário internacional ajudar, o
futuro ministro da Fazenda contabiliza que a transição para o novo modelo econômico prometido na campanha pode durar menos de dois
anos, data em que a transição democrática completaria 20 anos.
De transição em transição, segue
um dado que ficou fora dos relatórios
da equipe de Lula: o cadastramento
dos pobres -aqueles que vivem com
renda de até R$ 50 por mês- não deve esgotar-se nos 9,3 milhões de famílias. Pela nova previsão dos técnicos,
o número cresce em mais de 1 milhão
de famílias. É gente que também deverá preencher fichas e torcer para a
transição terminar.
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