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São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2003

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A POLÍTICA DE MASCATES

O promissor resultado da balança comercial brasileira, que deverá fechar o ano com superávit em torno de US$ 26 bilhões, melhorando significativamente uma tendência já delineada em 2002, é fruto de uma série de fatores. Além da própria contração da demanda doméstica, num cenário de baixíssimo dinamismo, o crescimento da economia chinesa, a reativação norte-americana, a valorização do euro e a retomada das importações argentinas contribuíram para sustentar os preços e expandir as vendas externas.
Foi especialmente notável para a formação do elevado superávit o desempenho do agronegócio, que se beneficiou não apenas da valorização das commodities nos mercados internacionais, mas também de convincentes ganhos de produtividade.
Quanto à atuação governamental, houve um esforço para focalizar a política externa em objetivos comerciais. Foi essa a principal preocupação do Itamaraty, que contou com o suporte dos ministros do Desenvolvimento e da Agricultura -formando-se uma trinca de "mascates", como definiu recentemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anexando uma nova imagem à sua já rica coleção de "metáforas".
Em 2004, porém, a perspectiva de reaquecimento da economia, além de outros aspectos internos e externos, tende a impor novos limites ao saldo comercial. As projeções, embora em geral favoráveis, são de um resultado inferior ao obtido neste ano. Nesse sentido, são positivas as declarações do diretor da área de promoção comercial do Ministério das Relações Exteriores, o embaixador Mario Vilalva.
Em entrevista ao jornal "Valor Econômico", Vilalva anunciou que a política do ministério deverá enfatizar a busca de alternativas aos mercados tradicionais -basicamente Estados Unidos, União Européia e América Latina, responsáveis por cerca de 75% do comércio brasileiro. Depois da recente incursão ao Oriente Médio, o presidente Lula visitará no primeiro semestre a China, gigante emergente com o qual o Brasil poderá abrir novas frentes de negócios.
Igualmente relevantes são países como Índia e Rússia, que podem oferecer boas perspectivas para as exportações. Aumentar o volume de comércio e continuar obtendo superávits elevados são metas essenciais para o futuro da economia brasileira.
Seria desejável, no entanto, que o governo voltasse suas atenções também para a sofisticação da pauta de exportações -e que as oportunidades externas para os setores industriais encontrassem maior espaço na agenda da política externa.
É preciso agregar valor às exportações agrícolas, avançando na formação de uma agroindústria capacitada a exportar não apenas grãos, mas produtos elaborados. No mesmo sentido, o complexo industrial ainda está à espera das prometidas políticas de incentivo à competitividade e à substituição de importações, algo que as autoridades governamentais ficaram devendo em 2003.


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