São Paulo, terça-feira, 29 de janeiro de 2002

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ARGENTINA NA ESPERA

"A Argentina caminha por um estreito desfiladeiro, onde há, de um lado, o abismo de uma hiper-recessão e, do outro, o abismo da hiperinflação". Essa frase, dita pelo vice-ministro argentino da Economia, Jorge Todesca, ilustra a gravidade dos dias que antecedem o anúncio de mais um pacote econômico.
Tudo indica que esse conjunto de medidas será decisivo. Ao que consta, deve levar à total pesificação dos depósitos e das dívidas em dólares.
A desdolarização da economia recupera a capacidade do Banco Central argentino de emitir moeda nacional sem lastro e de exercer a função de emprestador de última instância para o sistema financeiro. É um caminho para destravar o funcionamento da cadeia de pagamentos, uma das condições para a Argentina obter capacidade de voltar a crescer a médio prazo.
No entanto, restam em aberto as questões mais cruciais. Aguarda-se, por exemplo, quais serão as regras para a conversão dos depósitos de dólares para pesos.
Essa não é uma operação trivial. O curralzinho (o bloqueio das contas bancárias) provavelmente não será imediatamente extinto. A população teme que a inflação corroa o poder aquisitivo dos recursos bloqueados.
A criação de um índice de atualização desses depósitos é vista com temor. Esse mecanismo poderia gerar um indexador para toda a economia, o que traria um efeito realimentador capaz de levar o processo inflacionário ao descontrole.
Tampouco há certeza sobre quais serão os limites iniciais para a emissão de pesos. Além disso, a elaboração do orçamento está complicada em razão dos graves problemas fiscais que o país enfrenta.
Disciplinas fiscal e monetária são essenciais para afastar o risco de hiperinflação. Para isso, será fundamental uma significativa e ainda incerta ajuda financeira internacional.
Essas incertezas mostram que o sofrimento da Argentina ainda está longe de terminar.


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