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CARLOS HEITOR CONY
O efeito Fujimori
RIO DE JANEIRO - Nota-se que o presidente da República está à vontade quando o assunto é a sucessão dele
próprio. Encarna o papel de magistrado com desenvoltura, a mesma
que lhe falta quando se trata de outros temas e problemas. Sua habitual
saída, então, é enrolar o que já está
enrolado.
Na semana passada, mais uma vez
ele atuou como o magistrado íntegro
e isento, lembrando aos partidos que
a hora não é de agredir, mas de agregar. Tudo bem. Toda hora deveria ser
assim, destinada à união.
Donde lhe vem tanta e tamanha
naturalidade? Agregar é, em última
análise, derrubar qualquer tipo de
divisão. Traz embutida a negação do
""partido", uma vez que os partidos
agregados resultariam no todo, no
bolo gostoso da unanimidade.
E qual seria esse todo, essa unanimidade que juntaria os partidos da
situação num único e bastante candidato? A coisa ainda está informe,
parece até impossível. No Peru, ao final de seu segundo mandato, quando
tudo lhe parecia perdido, Fujimori
pedia todos os dias a união dos partidos que o sustentavam.
E tanto Fujimori pediu que obteve
uma união em torno dele próprio.
Partiu então para obter do Congresso
o terceiro mandato, que deu no que
deu, na base de que não se pode enganar todo mundo por todo o tempo.
Lembrar os pronunciamentos de
Fujimori naquele final de segundo
mandato não é pinimba descabida.
Tudo se repete, principalmente o que
não se deveria repetir. Ignoro se ele
usava o verbo ""agregar" -na realidade, meu portunhol não é bastante
para isso.
FHC apela acaciamente para a
união em torno dos ""lídimos interesses da nação". Ele aceita a fatalidade
da candidatura de Lula, mas deseja
agregá-la de alguma forma à receita
do bolo que vai para o forno. Se colar,
colou. O distanciamento presidencial
na questão sucessória revela que a esperança será a última a morrer.
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