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ELIANE CANTANHÊDE
O roto e o esfarrapado
BRASÍLIA - O Rio de Janeiro continua lindo, as pessoas estão tranquilas na zona sul, nos subúrbios, nas ruas,
nas favelas e agora têm até o piscinão
de Ramos. Tranquilas e felizes.
Deve ser por isso que o governador
Anthony Garotinho (PSB) é candidato à Presidência e vive provocando os
governos de São Paulo, desde Mário
Covas até Geraldo Alckmin.
São Paulo não fica atrás. Não tem
Copacabana, mas é um mar de rosas,
onde a população sai faceira para o
emprego de dia e para o lazer à noite,
sem medo, sem sobressaltos.
Deve ser por isso que, em entrevista
à Folha, Alckmin respondeu com ironia às provocações de Garotinho:
"Será que a segurança pública no Rio
está uma beleza? Será que os morros
estão uma maravilha?".
E deve ser por tudo isso (pela paz e
tranquilidade nas duas principais
metrópoles e em dois de seus Estados
mais importantes) que o Brasil inteiro faz coro, aliviado: "Ainda bem que
nós não somos a Argentina".
O probleminha aí é que Alckmin
tem de explicar o inexplicável, como
o aumento de 300% dos sequestros
em apenas um ano. E Garotinho tem
de conviver não só com a rotina das
balas perdidas mas com cenas como
as de ontem no Rio: moradores do
morro do Querosene em choque com
a polícia, queimando ônibus e saqueando supermercados. Afinal, a
Argentina é ou não é aqui?
O motivo da revolta é ainda mais
estarrecedor: os favelados enfrentaram a polícia inconformados com o
assassinato de um... traficante! A polícia realmente não pode prender alguém, mesmo o pior criminoso, e matar sem quê nem para quê. Isso é execução, é pena de morte. Mas como
entender que, entre a polícia e o bandido, a população tenha ficado ardorosamente com o bandido?
Enquanto isso, Garotinho tenta se
tornar um novo "fenômeno eleitoral", defendendo Deus, a família e os
homens de boa vontade nos programas de televisão do PSB.
Os cidadãos comuns do Rio, de São
Paulo, do Maranhão, do Pará e do
Rio Grande do Sul, quem defende?
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