São Paulo, terça-feira, 29 de janeiro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O roto e o esfarrapado

BRASÍLIA - O Rio de Janeiro continua lindo, as pessoas estão tranquilas na zona sul, nos subúrbios, nas ruas, nas favelas e agora têm até o piscinão de Ramos. Tranquilas e felizes.
Deve ser por isso que o governador Anthony Garotinho (PSB) é candidato à Presidência e vive provocando os governos de São Paulo, desde Mário Covas até Geraldo Alckmin.
São Paulo não fica atrás. Não tem Copacabana, mas é um mar de rosas, onde a população sai faceira para o emprego de dia e para o lazer à noite, sem medo, sem sobressaltos.
Deve ser por isso que, em entrevista à Folha, Alckmin respondeu com ironia às provocações de Garotinho: "Será que a segurança pública no Rio está uma beleza? Será que os morros estão uma maravilha?".
E deve ser por tudo isso (pela paz e tranquilidade nas duas principais metrópoles e em dois de seus Estados mais importantes) que o Brasil inteiro faz coro, aliviado: "Ainda bem que nós não somos a Argentina".
O probleminha aí é que Alckmin tem de explicar o inexplicável, como o aumento de 300% dos sequestros em apenas um ano. E Garotinho tem de conviver não só com a rotina das balas perdidas mas com cenas como as de ontem no Rio: moradores do morro do Querosene em choque com a polícia, queimando ônibus e saqueando supermercados. Afinal, a Argentina é ou não é aqui?
O motivo da revolta é ainda mais estarrecedor: os favelados enfrentaram a polícia inconformados com o assassinato de um... traficante! A polícia realmente não pode prender alguém, mesmo o pior criminoso, e matar sem quê nem para quê. Isso é execução, é pena de morte. Mas como entender que, entre a polícia e o bandido, a população tenha ficado ardorosamente com o bandido?
Enquanto isso, Garotinho tenta se tornar um novo "fenômeno eleitoral", defendendo Deus, a família e os homens de boa vontade nos programas de televisão do PSB.
Os cidadãos comuns do Rio, de São Paulo, do Maranhão, do Pará e do Rio Grande do Sul, quem defende?


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