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ELIANE CANTANHÊDE
Dor no coração
CARACAS - Hugo Chávez é um militar golpista que se converteu em político populista, elegeu-se presidente
da República, ratificou o mandato
em nova eleição e dividiu seu país ao
meio. Um fenômeno internacional.
Como Chávez foi e é possível na Venezuela -com seus 25 milhões de
habitantes, petróleo jorrando feito
água e uma tradição democrática?
Ele é resultado direto, diretíssimo, da
falência das instituições, da descrença nos partidos e nos políticos, da falta de alternativas tradicionais.
Com discurso fortemente nacionalista, antiamericanista, anticorrupção, antielites e antimiséria, Chávez
atraiu o foco das atenções no continente e, depois, no mundo. Gerou expectativa e esperança -ou medo.
Foi assim que se descobriu que a
Venezuela não havia sido democrática, nem justa, nem mesmo decente
naquele tempo todo antes de Chávez.
Estado, partidos, políticos, a Justiça e
as empresas privadas estavam podres. A corrupção escorria dos mais
altos escalões até o dia-a-dia do cidadão. Chávez ofereceu-se como "salvador da pátria". Deu no que deu. Ou
está dando no que está dando.
Quando penso no Brasil, me dá um
frio na barriga. Saímos da alternância dos generais para a paciência democrática de Sarney, fizemos uma
constituinte, apeamos Collor do poder sem tremelique institucional,
passamos pela transição madura
com Itamar e chegamos ao nosso topo político com Fernando Henrique
Cardoso e, agora, Lula. Eu achava
que minha geração não teria o privilégio.
E o que fazemos? Desqualificamos
todos. E o que eles fazem? Os petistas
desqualificavam os tucanos, que agora desqualificam os petistas. E o que é
pior: os tucanos se desqualificavam, e
agora os petistas se desqualificam
-com Waldomiros, bicheiros, lixo, a
estranha história de Santo André.
O Brasil não é a Venezuela, e não se
vislumbra nos céus, mares e terras
brasileiras algo como Chávez. Mas, se
nem mesmo FHC e Lula servem,
quem servirá? Reflexão dominical: se
a esperança morre, o que fica? Ou
quem se habilita?
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