São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Corpo de delito

RIO DE JANEIRO - Tudo bem, ou melhor, tudo mal. O escândalo Waldomiro ocupa e preocupa governo, partidos, mídia e povo em geral. Os desdobramentos, as novas revelações e até mesmo a turma do deixa-disso, que está montando a "operação abafa", todos estão seguindo o figurino que se espera, tanto na defesa como no ataque.
Obscuro espectador da cena pública, o que me intriga em toda a confusão não é o fato de um intermediário de fulano receber dinheiro para o intermediário de sicrano, seja para alimentar a campanha eleitoral de candidatos ou alimentar o próprio bolso.
Fico pasmo ao continuar ignorando, neste e em outros escândalos recentes ou antigos, quem ordena, monta o cenário e grava ou filma os personagens que estão pagando ou recebendo dinheiro sujo, cujo destino certamente é sujo também.
E, depois de ordenada, montada, gravada ou filmada, a operação fique em prudente sigilo, no conhecimento de poucos, pouquíssimos, até que se forme o momento ideal para outro tipo de operação, que é jogar no ventilador tudo o que ficou guardado à espera de ocasião propícia.
Como se sabe, o encontro de Waldomiro com o bicheiro foi em 2002. É impossível que tenha sido o primeiro e seguramente não foi o último. O delito, em si, deveria ser do conhecimento dos principais interessados. Tal como nos homicídios, é preciso que apareça o corpo de delito, no caso em questão, a prova do delito em si, que foi a gravação, certamente mostrada a selecionada platéia desde 2002.
Assim como há nos casos de morte o crime da ocultação do cadáver, no caso Waldomiro houve ocultação de provas que comprometiam autoridades. Não estou lembrando isso tudo para diluir a responsabilidade dos envolvidos. A CPI é necessária. Governo e PT darão um tiro na própria imagem se tentarem impedir a investigação do caso. Agora, como simples cidadão, gostaria de saber quem e por que ocultou o corpo de delito e só o mostrou agora.



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