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CARLOS HEITOR CONY
Corpo de delito
RIO DE JANEIRO - Tudo bem, ou melhor, tudo mal. O escândalo Waldomiro ocupa e preocupa governo, partidos, mídia e povo em geral. Os desdobramentos, as novas revelações e
até mesmo a turma do deixa-disso,
que está montando a "operação abafa", todos estão seguindo o figurino
que se espera, tanto na defesa como
no ataque.
Obscuro espectador da cena pública, o que me intriga em toda a confusão não é o fato de um intermediário
de fulano receber dinheiro para o intermediário de sicrano, seja para alimentar a campanha eleitoral de candidatos ou alimentar o próprio bolso.
Fico pasmo ao continuar ignorando, neste e em outros escândalos recentes ou antigos, quem ordena,
monta o cenário e grava ou filma os
personagens que estão pagando ou
recebendo dinheiro sujo, cujo destino
certamente é sujo também.
E, depois de ordenada, montada,
gravada ou filmada, a operação fique em prudente sigilo, no conhecimento de poucos, pouquíssimos, até
que se forme o momento ideal para
outro tipo de operação, que é jogar
no ventilador tudo o que ficou guardado à espera de ocasião propícia.
Como se sabe, o encontro de Waldomiro com o bicheiro foi em 2002. É
impossível que tenha sido o primeiro
e seguramente não foi o último. O delito, em si, deveria ser do conhecimento dos principais interessados.
Tal como nos homicídios, é preciso
que apareça o corpo de delito, no caso
em questão, a prova do delito em si,
que foi a gravação, certamente mostrada a selecionada platéia desde
2002.
Assim como há nos casos de morte
o crime da ocultação do cadáver, no
caso Waldomiro houve ocultação de
provas que comprometiam autoridades. Não estou lembrando isso tudo
para diluir a responsabilidade dos
envolvidos. A CPI é necessária. Governo e PT darão um tiro na própria
imagem se tentarem impedir a investigação do caso. Agora, como simples
cidadão, gostaria de saber quem e
por que ocultou o corpo de delito e só
o mostrou agora.
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