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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A difícil arte de governar
O debate sobre moral, ética e política sempre ocupou um lugar de
destaque nas lições dos filósofos e historiadores. Não é preciso dizer que o
tema é dos mais controvertidos. Muitos argumentam que o governante
nem sempre pode dizer a verdade, em
especial nos campos da economia e da
segurança. Assim como o governo está impedido de anunciar uma desvalorização cambial, está bloqueado para revelar seus planos de segurança.
Mas, se tais exemplos são verdadeiros, eles não podem ser generalizados
para toda e qualquer ação do governo.
Na administração dos recursos públicos, assim como na busca do poder, o
povo tem o direito de exigir condutas
retas e transparentes dos governantes,
nada justificando manobras diversionistas que visem deslocar sua atenção.
O Brasil vive momentaneamente
uma crise de confiança. O povo votou
na esperança de ver concretizados os
planos de justiça social longamente
pregados por quem sempre elevou a
ética e a moral acima de qualquer outra virtude.
Se isso ruir, ruirá a esperança. Mas
desanimar não faz parte do vocabulário do brasileiro. Por outro lado, é importante considerar que confiança depende mais de exemplos do que de
pregação. Se o vaso foi trincado, é preciso reconstruí-lo, punindo com firmeza quem abusou da intimidade dos
governantes e afastando, uma vez
comprovado, os que agiram como
cúmplices.
Isso é absolutamente essencial para
recuperar a credibilidade, que, no momento, é um ingrediente essencial para a realização do desenvolvimento
econômico, social e político da nossa
nação. Nesse campo, não há lugar para acomodações. O que deve pairar
sobre tudo é a efetividade das instituições, em especial da Justiça.
O Brasil não é o único a ser atacado
por surtos de desconfiança. No mundo desenvolvido, não faltam exemplos de governantes que mentiram
aos governados, causando estragos
nas finanças públicas e corroendo o
respeito nacional. Lá, como aqui, a
confiança só volta quando as instituições democráticas identificam e punem os infratores, evitando que a nação entre pelo descaminho dos doentes desenganados.
Felizmente, o Brasil possui instituições que se prezam, assim como dispõe de um bom número de governantes que respeitam os valores da moral
e da ética. No âmbito de São Paulo,
presto aqui uma homenagem aos últimos governadores que administraram e vem administrando o Estado
com seriedade e correção, dando um
belo exemplo ao restante da nação.
Não seria bom que tais condutas pudessem ser generalizadas? E que os tribunais não precisassem intervir para
apurar irregularidades?
É claro que sim. Mas melhor ainda é
deixar a Justiça livre para que os tribunais possam agir quando necessário.
Penso que a confiança não foi perdida,
mas que precisa ser urgentemente restaurada.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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