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NOS BRAÇOS DO POVO
"Daqui só saio nos braços do povo", disse o prefeito de São Paulo.
Na sexta-feira, Celso Roberto Pitta
do Nascimento havia saído pelos
fundos do Palácio das Indústrias, sede da prefeitura. No mesmo dia, um
oficial de Justiça entrava pela frente.
Pitta voltou anteontem nos braços de
Francisco de Mola Neto, o China, líder dos perueiros clandestinos, de
Alberto Alves da Silva Filho, presidente de escola de samba e diretor da
Cohab, do major Altino, chefe de sua
segurança pessoal.
Um certo Haroldo Mariano, correligionário de Pitta no pequeno PTN e
ligado a uma cooperativa de perueiros, também ajudava a erguer um
prefeito que se mostrava eufórico.
Mariano já declarou a esta Folha, a
respeito do apoio a Pitta, que "temos
de mamar onde a teta da vaca está".
Esse foi o povo que levou o prefeito,
reconduzido pela Justiça, para dentro
do palácio. Como essa vaca ainda dá
algum leite, duvida-se de que o mesmo povo o carregue para fora.
A essa altura, certo ceticismo deve
ser colocado na possibilidade de que
se realize o desejo de três em cada
quatro paulistanos, que, segundo
pesquisa do Datafolha, são favoráveis
ao afastamento do prefeito.
A via judicial segue seu trâmite naturalmente lento. Nesse terreno, destituições e restituições de Celso Pitta
-nos braços de seu povo ou não-
podem voltar a ocorrer. E isso sem
que se chegue a uma definição até o
final de seu mandato.
A alternativa política, ou o impeachment, ganhou materialidade
ontem, com a apresentação de uma
carta-denúncia contra Pitta pelo presidente da seção paulista da Ordem
dos Advogados do Brasil. Apoios nos
partidos governistas ao que consta
vão tornar viável uma comissão processante contra o prefeito.
Mas da vereança que sustentou Maluf e Pitta por mais de sete anos não
se pode esperar nada. Ou melhor,
pode-se esperar qualquer coisa. Até a
condenação do prefeito a partir do
seguinte cálculo: agride-se um morto-vivo político; preserva-se a notória
bancada governista de investigação a
seu respeito; de quebra, o vereador
que alardear ter contribuído para a
queda do prefeito pode obter um
ônus eleitoral adicional em outubro.
Seja como for, a opção pelo impeachment é inequívoca àqueles que
desejam alguma evolução nos costumes políticos de uma cidade que possui em seu histórico muitos governantes da estirpe de Maluf e Pitta. Como mostrou a experiência nacional
do início dos anos 90, há um grau nada desprezível de aprendizado democrático num processo como o que se
desenvolve em São Paulo.
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