São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2000


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NOS BRAÇOS DO POVO

"Daqui só saio nos braços do povo", disse o prefeito de São Paulo.
Na sexta-feira, Celso Roberto Pitta do Nascimento havia saído pelos fundos do Palácio das Indústrias, sede da prefeitura. No mesmo dia, um oficial de Justiça entrava pela frente. Pitta voltou anteontem nos braços de Francisco de Mola Neto, o China, líder dos perueiros clandestinos, de Alberto Alves da Silva Filho, presidente de escola de samba e diretor da Cohab, do major Altino, chefe de sua segurança pessoal.
Um certo Haroldo Mariano, correligionário de Pitta no pequeno PTN e ligado a uma cooperativa de perueiros, também ajudava a erguer um prefeito que se mostrava eufórico. Mariano já declarou a esta Folha, a respeito do apoio a Pitta, que "temos de mamar onde a teta da vaca está".
Esse foi o povo que levou o prefeito, reconduzido pela Justiça, para dentro do palácio. Como essa vaca ainda dá algum leite, duvida-se de que o mesmo povo o carregue para fora.
A essa altura, certo ceticismo deve ser colocado na possibilidade de que se realize o desejo de três em cada quatro paulistanos, que, segundo pesquisa do Datafolha, são favoráveis ao afastamento do prefeito.
A via judicial segue seu trâmite naturalmente lento. Nesse terreno, destituições e restituições de Celso Pitta -nos braços de seu povo ou não- podem voltar a ocorrer. E isso sem que se chegue a uma definição até o final de seu mandato.
A alternativa política, ou o impeachment, ganhou materialidade ontem, com a apresentação de uma carta-denúncia contra Pitta pelo presidente da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil. Apoios nos partidos governistas ao que consta vão tornar viável uma comissão processante contra o prefeito.
Mas da vereança que sustentou Maluf e Pitta por mais de sete anos não se pode esperar nada. Ou melhor, pode-se esperar qualquer coisa. Até a condenação do prefeito a partir do seguinte cálculo: agride-se um morto-vivo político; preserva-se a notória bancada governista de investigação a seu respeito; de quebra, o vereador que alardear ter contribuído para a queda do prefeito pode obter um ônus eleitoral adicional em outubro.
Seja como for, a opção pelo impeachment é inequívoca àqueles que desejam alguma evolução nos costumes políticos de uma cidade que possui em seu histórico muitos governantes da estirpe de Maluf e Pitta. Como mostrou a experiência nacional do início dos anos 90, há um grau nada desprezível de aprendizado democrático num processo como o que se desenvolve em São Paulo.


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