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Meu retrato do Brasil
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Minha história política
do Brasil começa há uns 40 anos, na
cobertura da conspiração que desaguaria no golpe de 1964. Os plantões
eram à porta dos quartéis. O livro de
cabeceira passou a ser o "Almanaque
do Exército", na vã tentativa de adivinhar quais dos generais a serem promovidos eram ou não "linha dura".
Foi assim por uns 20 anos.
Aí, veio o primeiro presidente civil,
Tancredo de Almeida Neves. O plantão logo se transferiu para a porta dos
hospitais. Fui obrigado a aprender até
o que era creatinina (não me pergunte
o que é porque deletei da memória).
Depois, veio a Constituinte. Passamos, os jornalistas políticos, a ser especialistas em regimento, obrigados a
saber o que era um tal de DVS (devo
deter o recorde de conhecimentos inúteis). Um dia, desembarquei em Brasília para mais uma etapa de elaboração da Constituição. Fui direto para o
Congresso, topei com o deputado José
Genoino (PT-SP) e, no piloto automático, perguntei: "Novidades?". "O artigo 134 está praticamente resolvido",
respondeu Genoino.
"Ah", alcancei a murmurar, embora
não creio que tenha manifestado alívio suficiente com tão formidável progresso cívico.
Antes, durante e depois do Congresso constituinte, foram os pacotes. Tivemos, os jornalistas políticos, que entender de "tablitas" e tabelas, de congelamentos e confiscos, de bandas exógenas e sabe Deus o que mais.
Aí, veio o primeiro presidente eleito
democraticamente, depois de quase 30
anos. Maravilha? Que nada. Logo
transferimos os plantões para a porta
de delegacias e de escritórios de advocacia. As fontes passaram a ser doleiros, secretárias e motoristas.
E nisso estamos até hoje, tentando
entender o que diabo vem a ser agravo
de instrumento, expressão que certamente anima o papo nos terminais de
ônibus do parque Dom Pedro.
Com essa história política, alguma
surpresa com o fato de o Brasil ser a
droga que é?
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